O que tem de errado em trabalhar pra caramba, não é mesmo?
Todo mundo sabe que se quisermos ter uma vida decente, com o mínimo de conforto, precisamos mesmo é ralar!
“Deus ajuda a quem cedo madruga”
“O trabalho enobrece o homem”
“O que vem fácil vai fácil”
Eu, assim como a maioria dos meus amigos da minha idade, comecei a trabalhar muito cedo. Eu tinha 15 anos e não via a hora de ter ao menos um pouquinho de independência financeira, nem que fosse na hora de comprar minhas próprias roupas. Pra falar a verdade, quando eu tinha 10 anos eu já queria trabalhar algumas horinhas por semana na papelaria do tio da minha amiga, só para fazer uns trocados. Claro que minha mãe não deixou, mas eu queria.
Vai ver que é porque comecei cedo que cansei cedo também…
Não é que eu tenha cansado de trabalhar, muito pelo contrário! É trabalhando que eu me sinto mais produtiva, no auge da minha criatividade e fazendo algo útil para alguém. E eu preciso me sentir útil! Se não sinto que estou produzindo algo importante (e nem precisa ser importante em proporções mundiais – não tenho essa pretensão toda! – pode ser importante apenas dentro da empresa onde eu trabalho mesmo), as coisas meio que perdem o sentido…
Eu não cansei de trabalhar, eu cansei muito cedo foi do modelo de trabalho que eu conhecia, do estilo de vida que eu tinha e da ideia de que passar 5 ou 6 dias por semana esperando ansiosamente pelo dia de folga era uma coisa normal.
Eu acredito sim que para termos uma vida que valha a pena a gente tenha mesmo que ralar, eu só não vejo muito sentido em termos que nos foder.
Por vários anos da minha vida eu não ralei, eu me fodi. Sim, porque levantar às 5 horas da manhã e ir dormir às 11 da noite, e não fazer absolutamente mais nada no seu dia além de acordar, não tomar café, se encaminhar pro trabalho (essa sendo uma parte essencial da foda, seja trancado no trânsito ou empaçocado no transporte público), trabalhar o dia inteiro em algo que já não faz mais nenhum sentido pra você há tempos, depois fazer todo o caminho de volta pra casa, tomar banho, comer qualquer tranqueira e dormir (bem menos do que o seu corpo precisa, diga-se de passagem), não é, no meu ponto de vista, a rotina de alguém que rala: pra mim, essa é a rotina de alguém que se fode. E eu simplesmente cansei de me foder.
Eu quero ralar! Eu quero acordar cedo, botar a cara nos meus projetos e só terminar quando o sol já estiver se pondo ou, quem sabe, só quando já for hora de dormir, sem nem ter visto o tempo passar. Eu quero ter que abrir mão dos meus finais de semana pra estudar. Eu quero trabalhar até de madrugada porque tem muita coisa pra fazer e eu não dei conta de terminar. Eu quero fazer tudo isso porque eu vejo sentido nas coisas que eu faço, porque eu acredito nos meus projetos e sei que com isso eu estou fazendo o meu melhor. Eu quero acordar de manhã e estar empolgada pra viver, mesmo que naquele dia eu não vá fazer nada além de trabalhar. É pedir demais?
O que eu não quero é me foder. Eu não quero PERDER 6 horas do meu dia num trânsito infernal simplesmente porque eu não posso arcar com o valor de uma prestação ou de um aluguel na região onde eu trabalho. Eu não quero voltar pra casa e precisar de duas horas para conseguir me desligar dos problemas do escritório. Eu não quero ter dinheiro para fazer um curso de francês, mas não ter tempo nem energia pra encarar o desafio.
EU ACHO QUE RALAR PRA SER ALGUÉM DE QUEM VOCÊ SE ORGULHE E TER AS COISAS QUE VOCÊ JULGA IMPORTANTES É SIM NECESSÁRIO, E EU QUERO CONTINUAR RALANDO CADA VEZ MAIS. MAS NINGUÉM VAI ME CONVENCER QUE VIVER PRA SE FODER É NORMAL!
Pra mim, aguentar um chefe mala é normal. Levantar e ir trabalhar num dia que você não está muito disposto é normal. Sair de casa num dia de chuva com um guarda-chuva vagabundo que vira ao contrário com a ventania, chegar no escritório encharcado e ainda assim ter que trabalhar – sim, até isso é normal (contanto que não aconteça todos os dias, claro!).
Já almoçar todos os dias em 10 minutos e na frente do computador não é normal. Viver a vida constantemente esperando pelo próximo feriado não é normal. Desmaiar no chuveiro, cortar a boca e não ter forças nem pra se vestir, e ainda assim estar preocupada com os afazeres do escritório e querer ir trabalhar NÃO É NORMAL!!!
Se for pra ser assim, então vai ver que a solução seja mesmo ter menos e viver mais. Não estou mais disposta a vender meu tempo, minha sanidade e minha alma por uns trocados. Não sei quanto a você, mas a mim, a vida insiste em lembrar que ela é finita, e eu não pretendo ignorá-la.
E aí? Você rala ou você se fode?
Carol Sales se formou em Turismo pela Universidade Metodista de São Paulo aos 21 anos, casou-se aos 23, se separou aos 25, se mudou pra Nova Zelândia aos 26, conseguiu um emprego na sua aérea de atuação aos 27, virou gerente 3 meses depois e pediu demissão no auge da carreira. Nesse momento está em sua casa, em Auckland, trabalhando ativamente na (re)criação de sua carreira e de um novo estilo de vida, mais saudável e mais alinhado com seus valores mais profundos. Escritora desde criancinha, acredita como ninguém no poder transformador das viagens e está relatando, em tempo real, o dia-a-dia de sua mudança de vida no crisedos30.com, onde encarou o desafio de escrever todos os dias por 222 dias.
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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[…] ♥ A diferença entre “ralar” e “se f*der” […]