Confia na vida! Eu escutei essa frase repetidamente por muito tempo e sempre achei que ela era um consolo para pessoas que não eram capazes de lutar pelo o que queriam. Achava que pessoas fracas eram essas, que simplesmente acreditavam na vida e deixavam fluir. Eu não, eu queria orgulhosamente lutar com unhas e dentes pelo o que eu acreditava e por muito tempo não estive disposta a ser mais uma pessoa conformada que simplesmente “confiava”. Para mim, eu confiava na vida sim, mas na vida que eu controlava, aquela que eu planejava cada movimento, como se minha vontade estivesse acima de tudo.
Mal sabia que isso não era confiar na vida. Estava confiando em mim, esse ser imperfeito que luta diariamente com seus medos e suas crenças. Por muitas vezes eu estava gastando toda a minha energia traçando planos mirabolantes de como eu seria a super heroína que abriria aquela porta que estava fechada diante de mim. Enquanto eu não deixava a vida me mostrar que havia uma janela escancarada e cheia de luz me aguardando um pouco mais a frente, logo depois daquela curva que parecia levar para lugar nenhum. Claro que devemos confiar em nós mesmos, mas não podemos deixar que a confiança em nós seja maior que a confiança na vida. Quem somos nós para sabermos mais do que ela?
Gastei muita energia a toa achando que estava no comando. Eu me frustrava. Porque a vida inteira me disseram que eu deveria batalhar muito pelos meus objetivos e era exatamente essa a receita que estava seguindo. Eu não entendia porque a vida não me dava o que eu queria. Mas se ela não estava me dando o que eu queria, mesmo com todo o meu esforço, quando eu olhava para os lados via que ela dava menos ainda para aqueles que estavam sentados por aí, dizendo que uma hora tudo se ajeita, que é preciso confiar.
Aos poucos fui percebendo que existe uma linha muito tênue entre uma coisa e outra. Eu e a maioria das pessoas estávamos pecando pelo excesso. Alguns sentados aguardando por um milagre. Outros, como eu, querendo encontrar a fórmula para criar o milagre por si mesmo. Faltava equilíbrio.
E eu fui acreditando na vida, como quem encontra uma pessoa interessante e aos poucos vai se entregando. Eu fazia a minha parte, mas quando a porta estava fechada, sinceramente? Estava cansada de planos mirabolantes. Eu parava para tomar uma cerveja com um desconhecido. E adivinha? Descobria que ele tinha a chave. Aos poucos fui parando de gastar a minha energia a toa. Passei a gastar a minha energia para seguir o meu coração e para confiar.
Outro dia, enquanto aguardava na fila do mercado e pensava em soluções para uns problemas financeiros, vi uma mulher grávida que não tinha dinheiro para levar toda a sua compra. Ela deixou algumas frutas para trás. Mesmo com vergonha, segui o meu coração. Pedi para que a mulher do caixa passasse tudo junto e que desse as frutas para a mulher. Eu estava precisando de uma grana extra para pagar umas contas, mas 8 dólares não mudaria em nada a minha situação. No dia seguinte fui trabalhar de garçonete. Movimento fraco. Um homem se levantou de uma das poucas mesas que eu atendia, me agradeceu pela minha simpatia e deu 400 dólares de gorjeta na minha mão e foi embora.
Por muitas vezes seguir o meu coração significou pegar um caminho obscuro, deixar pessoas amadas e temer que eu perderia tudo. No final eu descobri que o caminho era obscuro somente na entrada, como uma maneira de afastar os covardes, que jamais trilhariam aquela estrada. Conforme eu ia confiando e caminhando, ele se iluminava e trazia de volta tudo o que era verdadeiro e que perder tudo era uma ilusão, porque a gente, no fundo, não tem nada a perder. Basta confiar.
Fotos: Google
Leticia Mello é apaixonada pelo desconhecido. Viaja em busca de pessoas, histórias e lugares. É perdida quanto a profissão e já ralou fazendo de tudo pelo mundo e atualmente mora em Nova York. Criou o DO FOR LOVE PROJECT: passou 6 meses viajando sozinha e fazendo trabalho voluntário gratuito na Tailândia, Camboja e Vietnã, somando assim a sua paixão por viajar com o desejo de ajudar. Acredita que com pouco pode-se fazer muito e compartilha suas experiências na sua página do Facebook e no site.
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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