*Por Letícia Mello em 11 de fevereiro de 2016.
Me lembro com detalhes da primeira vez que tomei consciência de que eu fazia parte de um todo muito maior do que o meu próprio umbigo. Eu tinha dez anos, achava que tinha o direito de reclamar do que minha mãe tinha feito para o almoço, inventando restrições sobre o que eu queria ou não comer. Diante da situação, meus pais me colocaram no carro e me levaram para um passeio que me marcaria para sempre: fomos conhecer um acampamento de sem-terra. Percebi naquele dia que ter um prato de comida e uma roupa para vestir era um dos maiores privilégios que eu tinha. Passei a comer de tudo e a reparar muito mais no mudo ao meu redor, mesmo que sem saber a definição, naquele dia eu aprendi o que era empatia.
A vida adulta acabou me afastando daquela garotinha, assim como acontece com a maioria de nós, gastando energia para se encaixar no que agora seria uma vida de falsas responsabilidades. Apesar de ter me adaptado de muitas formas, eu não conseguia parar de me questionar. Eu trabalhava muito para bancar minhas viagens, que a princípio eram o meu maior tesouro. Mas elas foram perdendo o brilho e comecei a busca por um propósito maior. A garotinha que ainda vivia em mim gritou bem alto e eu decidi que largaria tudo para voluntariar.
Passei seis meses fazendo trabalho voluntário em áreas remotas na Tailândia, Camboja e Vietnã. Com um orçamento de 500 doláres por mês eu dava aulas de inglês em troca de acomodação para crianças carentes, monges, policiais, agricultores e até mesmo para uma família de uma minoria étnica. Com doações de amigos eu consegui construir uma casa para uma família no Camboja. A minha vida mudou ali. Fui com o objetivo de ensinar e acabei aprendendo muito mais do que ensinando. Resolvi que esse seria meu plano de vida e criei o projeto Do For Love. Acredito na força do voluntariado e decidi que gostaria de incentivar mais pessoas a sentirem o prazer de trabalhar em troca de amor. Para fazer isso, escrevi um livro que conta essa aventura completa e lancei uma campanha de financiamento coletivo para poder publicá-lo.
Mas quero deixar claro que não é necessário atravessar o mundo para fazer a diferença. Voluntariar é algo tão grandioso que não importa o tamanho do seu gesto. Vou te contar uma história. Eu conheço o Alexandre Cardoso, ele mora em São Paulo, interpreta um advogado para ganhar a vida mas na verdade é ator e palhaço. Acredito que ele atue muito mais na advocacia do que quando coloca o nariz vermelho e naturalmente faz as crianças sorrirem nas casas de apoio a crianças com câncer. Ele poderia ser mais um no escritório, no trânsito e na vida, mas optou por fazer a diferença.
Ele é o idealizador da Cia dos Clownáticos que elabora e apresenta espetáculos teatrais de palhaços e arrecada donativos em prol das instituições carentes parceiras. Os donativos são entregues nas instituições pelos próprios voluntários, juntamente com uma apresentação especial de um espetáculo produzido pela própria Cia dos Clownáticos que aplica e ministra Oficinas Didáticas nas instituições carentes, incentivando e ensinado alguma expertise que possa transformar a vida da criança, através de aulas de teatro, dança, expressão corporal, orientação profissional, iniciação esportiva, pintura, fotografia, massagem e literatura. A Cia aceita voluntários que queiram se unir a essa causa do bem e também doações tanto de pessoas físicas como de empresas que queiram patrocinar alguma das oficinais. Para conhecer mais sobre esse projeto é só clicar AQUI.
Eu e o Alexandre batemos um papo para responder a seguinte pergunta: Por que comprometer o seu tempo livre sendo um voluntário? Facilmente chegamos a uma resposta unânime: porque o trabalho voluntário tem o poder de mudar a sua vida e a de outras pessoas. Voluntariar é uma das maneiras mais incríveis de se autoconhecer, por meio dele é possível identificar virtudes e qualidades que até então você desconhecia. É um ato tão genuíno (tanto de quem dá, como de quem recebe) que a pureza dessa ação te faz olhar para dentro, procurar lá no fundo qualidades suas já esquecidas. Acreditamos que o trabalho voluntário nos reconecta com a nossa verdadeira essência, é como voltar a ser criança, relembrando daquele tempo que ainda tínhamos a pureza de simplesmente ser.
Pelo fato de não haver uma troca financeira, não existe a obrigatoriedade do que você entrega. E adivinha o que acontece? Ela se torna uma entrega genuína. A verdade toca o seu coração e você identifica que a gratidão de quem recebe é a moeda mais valiosa nessa troca. Você se ajuda muito mais do que acaba ajudando.
O mundo só será transformado por meio das ações de pessoas. Então, quanto mais pessoas você ajudar, mais o mundo está sendo transformado. Por meio da empatia com os assistidos você aprende a parar de se vitimizar e se torna protagonista. Por meio do amor e da troca, você aprende junto com as pessoas que recebem ajuda a encontrar o sentido da vida.
Acredite no poder que o trabalho voluntário tem e faça a sua parte, começando dentro da sua casa, na sua comunidade, no trabalho ou pelo mundo. Apoie projetos que você acredita. Mude a sua vida e a de outras pessoas, deixe um legado, colecione sorrisos de gratidão. Faça por amor, porque é de amor que o mundo precisa.
Assista ao vídeo abaixo para conhecer mais sobre o Do For Love Project. A campanha de financiamento coletivo vai até o dia 21 de Fevereiro. Quem tiver interesse em garantir o livro autografado entregue em casa e se inspirar por meio das minhas histórias, é só acessar www.catarse.me/doforlove
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=j1LpCQnz428[/youtube]
Fotos: Do For Love e Cia dos Clownaticos.
Leticia Mello é apaixonada pelo desconhecido. Viaja em busca de pessoas, histórias e lugares. Criou o DO FOR LOVE PROJECT: passou 6 meses sozinha fazendo trabalho voluntário independente na Tailândia, Camboja e Vietnã, somando assim a sua paixão por viajar com o desejo de ajudar. Escreveu um livro sobre a sua experiência como voluntária e já planeja mais viagens com o objetivo de ajudar mais pessoas em mais lugares. Ela compartilha suas experiências na sua página do Facebook e no site.
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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