* Por Angélica Nedog em 06 de junho de 2016
Eu me lembro que quando eu era criança, eu simplesmente queria fazer as coisas. Eu nunca pensei no significado ou no propósito de fazer o que eu queria fazer. Era tudo uma questão de satisfação imediata, sem grandes expectativas. Eu gostava de brincadeiras de meninos: jogar bola, pega-pega, andar de bicicleta na lama, fingir que meus bonequinhos Lego eram todos manobristas (até hoje não entendi isso muito bem), brincar com carrinhos de controle remoto e arrancar as cabeças de todas as Barbies que minha irmã esquecia no quarto.
Nunca pensei que houvesse algo de “errado” com a minha sexualidade ou que eu fosse uma psicopata em potencial. Ninguém me disse para fazer nada disso. E o melhor de tudo era que, se a brincadeira já não tivesse graça, eu simplesmente parava de brincar. Não havia culpa ou aquele sentimento de “ter que terminar”, mesmo que aquilo não fizesse mais sentido para mim. Não havia discussão, grupo de apoio para crianças que decidem abandonar seus Legos, análise dos pontos fortes e fracos, livros de autoajuda.
E porque eu adorava fingir que meus Legos eram manobristas, eu simplesmente fazia isso. Eu não pensava: “Bem, será ao brincar de Lego manobrista eu não estou desperdiçando meu tempo como criança? O que isso irá me trazer de resultados? Como será que brincar de Lego manobrista irá afetar minha futura carreira?”
Parece que o grande mal dessa geração é que quase ninguém sabe o que quer fazer da vida. E, por isso, todas as dúvidas vêm no mesmo pacote: “Por onde eu devo começar”? e “Como encontrar a minha paixão” são apenas duas de muitas delas.
O mais importante disso tudo é que o “não saber” é o ponto principal. É disso que se trata a vida: você não sabe, mas faz alguma coisa mesmo assim. E isso não vai ficar mais fácil só porque você descobriu que ama seu trabalho como coletor de lixo, neurocirurgião ou produtor de filmes adultos.
A queixa comum entre muitas dessas pessoas é a de que elas PRECISAM “encontrar a sua paixão”.
Pois, sinceramente, eu acho que você já encontrou a sua paixão, só a está ignorando. Talvez por medo de ser julgado, talvez por medo de ser ridicularizado, talvez por medo de falhar. Só que você fica acordado, em média, 16 horas por dia. O que você faz com o seu tempo? Você está fazendo alguma coisa, obviamente. Você está falando sobre alguma coisa. Existe um assunto ou atividade que toma uma quantidade significativa do seu tempo livre, suas conversas, suas postagens em redes sociais, e talvez você nem perceba isso. Ou, novamente, prefira ignorar. Está bem na sua frente, mas você evita. Você diz a si mesmo: “Ah, sim, eu amo criar vídeos engraçados para o YouTube, mas isso não conta. Eu não posso ganhar dinheiro com isso”.
Você sequer tentou? O problema não é a falta de paixão por alguma coisa. O problema é a produtividade. O problema é a percepção. O problema é a aceitação.
O problema é o “Bem, isso não é uma opção realista”, ou “Mamãe e papai me matariam se eu tentasse fazer isso, porque eles vivem me dizendo que eu devo ser médico ou advogado, assim como eles e como meus dois irmãos, primos”, ou “Que loucura, você não pode comprar um jatinho com o dinheiro que irá ganhar trabalhando com vídeos”.
Por isso eu digo que o problema REAL nunca é paixão. São as prioridades.
E, mesmo assim, quem disse que você precisa ganhar dinheiro fazendo o que ama? Desde quando todo mundo acha que precisa amar cada milésimo de segundo do seu trabalho? Isso simplesmente não existe! Mesmo que você ame o que faz, existem os altos e baixos, os dias bons e os dias em que você prefere não sair da cama. É assim para todo mundo! A questão aqui é, mais uma vez, sobre as expectativas. Se você acha que a vida deveria ser sempre como uma propaganda de margarina, está na hora de dar um tempo no Netflix.
Outro ponto muito importante, que talvez seja um pouco duro de engolir, é que se você precisa procurar por algo pelo qual esteja apaixonado, então é provável que você simplesmente não esteja apaixonado e ponto. Se você já estivesse, isso seria uma parte intrínseca da sua vida. Não precisa pensar nela porque ela já está lá. Sempre esteve.
E se você não estiver apaixonado por nada, tudo bem também! Simplesmente aproveite o que a vida já está oferecendo e as coisas que te fazem sorrir.
Sério mesmo: o que tem de tão errado em ter um trabalho “normal”, onde você conviva com algumas pessoas legais (e outras nem tanto) e, então, siga a sua paixão (caso tenha uma) no seu tempo livre? Talvez, no futuro, os papéis se invertam e você seja capaz de trabalhar no que você ama em tempo integral! E se você não for do tipo apaixonado, simplesmente aproveite o seu tempo para fazer o que gosta! Mais uma vez, é disso que se trata a vida: você não sabe o que vai acontecer, mas já está fazendo alguma coisa assim mesmo. Então, por que não dar o melhor de si? Apaixone-se pela vida e ela retribuirá de maneira generosa e, talvez, imprevisível. Isso não é apaixonante?
Imagens: gaspi *yg via Visual hunt / CC BY-NC-ND , return the sun via Visual Hunt / CC BY , Visual Hunt
Angélica Silva é uma buscadora. Eu sempre digo que o maior problema dela é ser parecida demais comigo (Alana), o que me confunde nos textos. Não sei qual é de quem! Uma mulher que se joga na vida com coragem, é autêntica, divertida e se reinventa a cada momento. Boto fé! Ela escreve também no seu blog pessoal Assim com a fênix. Confira!
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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