* Por Angélica Nedog em 05 de maio de 2016
Existe uma fábula bastante conhecida, que fala sobre o elefante do circo. Mesmo com sua força descomunal e amarrado apenas por uma corrente em uma de suas patas, presa a uma pequena estaca encravada no chão, ele não foge. Aliás, nem tenta. Isso acontece porque o elefante foi preso à estaca ainda muito pequeno, tentou fugir inúmeras vezes, mas a estaca era muito pesada para ele. Depois de um tempo, acabou desistindo e aceitando seu triste destino.
O mesmo acontece conosco.
Temos tantas crenças enraizadas de que não podemos, não teremos ou não seremos que acabamos presos ao nosso destino, mesmo que não estejamos satisfeitos com ele. Talvez, no passado, tenhamos tentado diversas vezes e fracassado. Talvez, algumas pessoas importantes em nossas vidas tenham nos dito, repetidas vezes, que não conseguiríamos. “Melhor nem tentar!”, eu ainda ouço, às vezes, em meu subconsciente.
A consequência disso é que, depois de um certo tempo, acabamos nos acovardando mesmo diante dos menores desafios, porque nossa autoconfiança – se é que sobrou alguma – está minada. Temos uma visão distorcida de quem somos e do que podemos e achamos que está bom do jeito que está. Somos inundados por frases de (d)efeito como “se melhorar estraga”, “quanto mais alto o sonho, maior o tombo”, “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, só para citar algumas.
Somos levados a acreditar que ambição é ganância, a riqueza é maléfica e o poder é efêmero. Qualquer um que queira dar um passo à frente, conquistar mais, saber mais, questionar mais, é considerado um tolo, uma fraude.
Preferimos levar uma vida sem gosto, sem cor, sem melodia, do que ser considerado “aquele que não soube valorizar o que tinha”.
Este disco enroscado fica tocando a mesma música em nossa cabeça até que ela passe a fazer parte dela. Mesmo. E então, embora não estejamos mais ouvindo a tal da música (porque já nos acostumamos), ela continua lá, repetindo a mesma melodia 24 horas por dia.
Temos uma certeza aparentemente absoluta de que já sabemos o que fazer, o que não fazer, quando, como, onde, com quem e por que. Esta ‘certeza’ vem do fato de que estamos tão habituados a fazer sempre as mesmas coisas, a pensar sempre do mesmo jeito, a agir sempre da mesma forma, que nem passa pela nossa cabeça desligar esta vitrola quebrada.
Tal qual o elefante do circo, só entendemos que algo está errado quando algo realmente grande acontece. No caso do elefante, pode ser, por exemplo, um incêndio iminente que coloque sua vida em risco. Então, em um último esforço para sobreviver, ele tentará, novamente, se livrar da corrente e perceberá, no final das contas, que sempre esteve livre.
No caso das pessoas, este “despertar” pode acontecer quando você leva um tremendo pé na bunda, quando descobre que está sendo traído, quando percebe que seu casamento de décadas não passa de um comodismo conveniente, quando, depois de anos ralando no emprego, ao invés da tão sonhada promoção você recebe um cartão vermelho e se vê no olho da rua, quando você perde tudo e percebe que, assim como o dinheiro, a fama e as festas, seus “amigos” também evaporaram.
De fato, é tudo uma questão de perspectiva. Sim, perder o emprego ou terminar um relacionamento de longo prazo são situações que, a princípio, podem paralisar. E isso faz parte. Você precisa de um tempo para digerir tudo o que aconteceu, precisa fazer as pazes consigo mesmo e entender que esses perrengues fazem parte da vida antes de dar o próximo passo.
Precisa saber que as coisas acontecem para você, não com você. E a diferença entre elas é enorme! Como assim? Quando eu digo que as coisas acontecem com você, isso significa que suas mãos estão atadas, que você é uma vítima das circunstâncias, alguém incapaz de criar a própria realidade. Shit happens, não é? Sua única reação é se conformar. Já quando eu digo que as coisas acontecem para você, isso significa que você é completamente responsável por aquilo que cria. Sim, isso inclui a sua realidade e, por consequência, a sua vida. E quando eu digo “coisas”, eu me refiro tanto a coisas boas quanto ruins. E elas acontecem com todo ser humano que respira, o tempo todo, em todo lugar.
Quando você decide que chegou a hora de sacudir a poeira e percebe que o que essa “tragédia aparente” fez foi, simplesmente, soprar o seu barquinho para uma outra direção – talvez ainda mais atraente e significativa – você descobre que seu potencial como ser humano vai muito além do que você pudesse sequer imaginar enquanto estava preso em seu mundo limitado.
*Circo legal não tem animal*
Imagens: rAmmoRRison via VisualHunt / CC BY-NC , Sylvia Covizt via Visualhunt / CC BY-ND , symphony of love via Visualhunt.com / CC BY-SA
Angélica Silva é uma buscadora. Eu sempre digo que o maior problema dela é ser parecida demais comigo (Alana), o que me confunde nos textos. Não sei qual é de quem! Uma mulher que se joga na vida com coragem, é autêntica, divertida e se reinventa a cada momento. Boto fé! Ela escreve também no seu blog pessoal Assim com a fênix. Confira!
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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