Por mais que a gente queira fugir disso, não há como negar uma realidade: em maior ou menor grau, todos somos preconceituosos. Não porque somos seres escrotos e execráveis, mas sim porque fomos ensinados a agir assim desde sempre. A culpa não é do papai, da mamãe e nem da tia da escola. Discriminamos porque vivemos em uma sociedade que repudia o diferente, que foge do padrão. E porque certas crenças estão internalizadas no nosso inconsciente. Sim, grande parte das vezes a gente reproduz preconceito sem sequer perceber o que está fazendo.
Reconhecemos com facilidade o preconceito do outro: o político que tenta fazer suas ideias religiosas sobreporem às leis, o adolescente que ofende verbalmente uma pessoa com deficiência mental na rua, a senhorinha católica que faz o sinal da cruz e atravessa pro outro lado da rua ao ver um negro com dreads e usando chinelo. Porém pouco percebemos o preconceito que ajudamos a perpetuar. E isso ocorre de várias formas: quando apoiamos a diversidade de corpos, por exemplo, mas só daquelas mulheres padrão Plus Size, com cintura fina, pouca estria e celulite e quase sem barriga. O resto a gente acha feio. É quando acreditamos que gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros devem ser respeitados, mas nos espantamos com a menor demonstração de afeto de um casal que foge da heteronormatividade. É quando admiramos a beleza negra, mas só de quem tem os famosos “traços finos”, que nada mais são do que características fenotípicas que se aproximam do padrão eurocêntrico de beleza. É quando somos a favor da mulher ter a liberdade de fazer o que quiser com o próprio corpo, mas sabe como é, né? Se depilar de vez em quando faz bem. É quando temos um amigo gay bonito e com uma postura mais masculinizada (o gay discreto, que ninguém fala que “é”), mas temos pavor de homossexuais afeminados, e falamos que toda “bicha pão com ovo” é escandalosa e barraqueira. Quando apoiamos a inclusão de pessoas com deficiência física no mercado de trabalho, mas ao mesmo tempo nos perguntamos se elas realmente serão produtivas como uma pessoa“normal”.
Ou seja: somos desconstruídos até onde não nos incomoda. Até onde nos é interessante expor nas rodas de conversa, no status do Facebook e para nos mostrarmos modernos e livres. Mas a verdade é que ninguém é livre de pré-conceitos. E tudo bem. Temos a vida toda pra questionar nossas certezas, as verdades absolutas, as concepções que absorvemos dos familiares e nos ambientes sociais.
É importante que tenhamos ciência de que somos todos humanos em desconstrução diária, para não correr o risco de julgar quem deseja crescer nesse aspecto, mas vez ou outra, dá uma escorregada. Em vez de apontar o dedo pro coleguinha, ensinar é uma saída válida. E é bem fácil identificar quem age de forma proposital e maldosa e quem realmente está num processo de desconstrução de preconceitos.
Somos todos preconceituosos, mas completamente capazes de melhorar, dia após dia. Quem hoje nos ensina, certamente um dia foi como nós.
Fotos: divulgação.
Ex-concurseira olímpica, amante da escrita e fascinada por relações humanas. Psicóloga para os amigos, não sabe o que fazer com a própria vida. Apaixonada por pessoas consideradas ovelhas negras, com as quais comumente se identifica. Atualmente funcionária pública, está na jornada em busca do seu propósito. Escreve sobre um pouco de tudo em alinexavier.me, no blog Superela e em facebook.com/alineandxavier.
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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