*Por Laly Sturaro em 11 de janeiro de 2016
“Ser ou não ser: eis a questão”.
Com todo o meu respeito à brilhante dramaturgia de Shakespeare, mas não posso deixar de concordar mesmo é com Oscar Wilde, que dizia que a vida é que imita a arte, muito mais do que o contrário.
Vejam só, se uma das mais famosas máximas da dramaturgia mundial, não é um dos mais fortes pilares que sustentam a nossa sociedade…
“Ser OU não ser: eis a questão”.
Desde que ousamos abrir nossos olhinhos – e o berreiro – nessa brilhante atmosfera terrestre, somos incentivados e, mais do que isso, pressionados a fazer escolhas entre isso OU aquilo.
Que atire a primeira pedra quem não teve um momento “Ó céus, ó vida!” quando teve que escolher entre exatas, humanas e biológicas e abdicar das outras duas para O R-E-S-T-O D-A V-I-D-A !
(pausa para a música triste)
But, WHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAT????????????????
Por quê hein minha gente? Quem falou? Quem obrigou? Alguéééém me mostra onde tá escrito no livro da vida ou sei lá, na Constituição Brasileira, ou melhor, MUNDIAL!!! (tem?), que a gente só pode ser isso OU aquilo. Que se eu sou X, automaticamente não posso ser Y também… nonono!
Alguém deve ter determinado uma punição bem severa pra gente ser cordeirinho até hoje, só pode! Porque eu du-vi-dê-ô-dóóóó que alguém aqui acredita de verdade que nós, TODOOOOS, somos uma mera equação matemática.
Se alguém me afirmar que tudo o que somos é exatidão, olha, eu tô pagando pra vir aqui me contar onde eu adiciono, multiplico, divido e subtraio pra ter a voz da Adele e causar no planeta inteirinho com meu mero HELLO! Faz favor?!
Sabe qual é? A gente precisa assumir a responsabilidade de uma vez por todas e parar de se esconder atrás da sombra do sistema, usando a desculpa de que já nascemos com uma corrente prendendo nossos pezinhos aos padrões sociais, afinal, antes de nascermos alguém já definiu por nós se íamos gostar de azul ou de rosa. Qual é?! É fácil demais colocar nas mãos dos outros a responsa sobre o que achamos ser aquele peteleco que derruba o castelinho de cartas de baralho que decidimos chamar de vida.
Primeiro que se os alicerces das nossas vidas fossem frágeis como cartas de baralho, não teria dado tempo nem pra eu aprender a escrever, nem pra você aprender a ler isso aqui. A gente já teria saído voando faz tempo, pra outra dimensão. E segundo que não há nada em outras mãos, que não as nossas, que tenha a força necessária pra nos jogar numa caixinha da qual não consigamos sair. Então, que cesse a choradeira! May the force be with us!
A vida vai dar vários petelecos na nossa bunda, mas a decisão de deixar a bunda na janela é toda nossa. Se rende quem quiser, se salva quem merecer. E merecer é coisa de quem não teme assumir cada pedaço de si e não ousa aparar um só milímetro de rebarba pra caber numa forminha que foi feita pra qualquer um, porque ser “qualquer um” não é suficiente.
Porque esse tipo de gente é aquele “tipinho” ousado que não se contenta com o que não se conecta consigo. Que sabe que gratidão é agradecer acima de tudo por quaisquer intempéries, mas sem cegar o instinto de distinguir o que é bom do que não é, e que, mais acima de tudo ainda, sabe que quem decide o que é bom ou não, é seu ser interior e ninguém mais.
E, veja só, se até o bem e o mal moram dentro de nós, quando foi que nos deixamos convencer que são fatores externos que decidem que se escolhêssemos ser médicos, estaríamos automaticamente dizendo não à fotografia, por exemplo?
Sinceramente, qual porcentagem de você acredita que os 4, 5, 6 ou whatever anos que você cursou de graduação, quando – ATENÇÃO! – já era um cidadão de personalidade formada, definem tudo o que você é hoje?
Então por que você continua respondendo com seu título profissional àquela pergunta sobre o que você faz da vida?
E de onde vem essa reticência em escolher por somar ao invés de dividir?
De onde vem o ímpeto de se colocar em situações para escolher entre uma coisa e outra ao invés de se permitir ficar com as duas, ou três, ou quatro? Isso também é uma escolha!
É preciso entender que “ser ou não ser” só funciona em “A tragédia de Hamlet” porque de Shakespeare ninguém poderia esperar nada menos que um drama dos melhores, mas não dá pra trazer a beleza da arte pro mundo real sem que o drama venha também com as devidas adaptações.
A gente tem uma mania babaca de achar que é um esforço tão grande se deixar ser só o que é de verdade, porque ser o que esperam é mais óbvio, logo, mais aceitável, logo, não dá trabalho, etc… e esquece que, a longo prazo, o peso da máscara que veio no pacotão que a gente comprou, é bem maior quando precisamos sustentá-la o tempo todo.
Não é tão difícil! Basta saber o tamanho da sua vontade de ter uma vida plena pra concluir até que ponto vale a pena servir de cobaia pra uma sociedade que gosta de imitar a arte, os mesmos padrões ou seja lá o que for.
Mas uma coisa é certa, seja na arte, seja na vida, não existe drama pior que aquele de identidade, porque o ser mais feliz do mundo é aquele que sabe exatamente quem é.
Não há trunfo maior que o de poder ser e não ser: o quê, como e quando quiser.
E se escolhermos começar a unificar ao invés de separar?
E se escolhermos sair do looping e começar a colocar consciência em nossas ações?
Que tal ser tudo o que quiser e deixar de ser quando quiser também?
Paremos de imitar e comecemos a criar.
Escolhamos por dizer menos “NÃOs” aos nossos talentos e vontades e teremos sempre um saldo positivo, afinal, seres cheios de “SIMs”, são muito mais interessantes que seres cheios de si, apenas. Convenhamos, nenhum mundo interno limitado pode ser mais atraente que um liberto às infinitas possibilidades.
Mas antes de qualquer coisa, escolhamos encarar a nossa essência com toda a honestidade, afinal, se não é a nossa pluralidade que nos faz singulares, pra quê passar a vida escolhendo tanto?
Fotos: Kristina Alexanderson, Rachel Baran, Theloushe, Soren Buchanan
Entusiasta da vida e das conexões que nela podem ser criadas e incentivadas. Acredita piamente numa nova consciência como caminho e na sustentabilidade como resposta. Curiosa da astronomia, porque sabe que o céu não é limite, é infinidade. Apaixonada por música, leitura, arte, comportamento e cultura. Publicitária por formação, redatora por hobbie. Alguém em busca de propósito, a fim de fazer deste mundo, um lugar mais legal para se viver!
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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