Ainda posso me lembrar da frase que ouvi de uma das primeiras pessoas com quem trabalhei na vida. Eu estava com 20 anos e tinha acabado de trancar a faculdade de Jornalismo pela primeira vez (foram 4 vezes, ao todo, até me formar). Foi tudo tão de repente que nem tive tempo de raciocinar: cometi um erro, ela não admitia erros. Eu disse que sentia muito. Que não ia errar novamente. E então veio a sentença: “O seu maior erro é que você sente demais”. Aos 20 anos, no meu primeiro emprego remunerado, eu não queria chorar na frente dela, porque sempre me disseram que demonstrar emoções no ambiente de trabalho era uma postura nada profissional. E que chorar era coisa de criança. Ou de gente desiquilibrada. Não importava o tamanho da humilhação ou o quanto aquela pessoa te magoou, você simplesmente tinha que engolir o choro, o sapo, a dor, e seguir como se nada tivesse acontecido. Porque o maior erro era sentir. Não sinta, pareciam dizer em coro. Não erre, ecoavam também. Naquele dia, eu me lembro de ter vomitado no banheiro.
Há pouco mais de um ano, fui apresentada a uma personagem de filme: uma menina que tinha o poder de transformar as coisas em neve. Uma coisa que podia ser transformadora e mágica, se bem canalizada, mas que, durante anos, foi um verdadeiro tormento. “Não sinta, não sinta”, era o que falavam pra ela. E, de tanto não sentir, um dia aquele dom se transformou em revolta, medo e raiva. Bola de neve, literalmente.
Cada vez mais, tenho acreditado que todos os nossos sentimentos, independentemente de serem bons ou ruins, precisam ser sentidos, encarados, aceitos e respeitados por nós, simplesmente porque surgiram por um motivo. E esse motivo sempre tem a ver com a gente. Sempre. Não é o outro, sou eu. Não é por ele, é por mim.
Fazer de conta que não sente não vai te ajudar. Varrer o que quer que seja pra debaixo do tapete não muda nada, só disfarça. É como jogar todas as suas roupas e tralhas dentro do armário só pra passar a impressão de que o quarto está arrumado, quando, por dentro, você sabe que tá tudo uma bagunça. Que basta abrir uma frestinha da porta pra tudo despencar.
Não, não tô dizendo que TEM que chorar. Ou que é tipo obrigatório revidar. O que eu quero dizer é que temos que sentir, sim. Sentir. Olhar pra dentro mesmo. Porque o respeito e a aceitação pelas suas emoções vão te ajudar a tomar consciência delas e ESCOLHER o que fazer a partir de então. Tirar a mão do fogo? Ou continuar com ela ali, ardendo em brasa?
Ninguém aqui é perfeito, o que significa que todos nós temos que lidar com sentimentos não tão agradáveis em relação a nós mesmos e aos outros quase todos os dias. E tudo bem. Cada um é livre pra escolher como lidar com isso.
O que eu sei é que eu escolhi aceitar e respeitar as minhas bagunças internas. Sentir muito tudo, sem encarar isso como um “problema”. Sentir, experienciar, aceitar, respeitar, mas tirar a mão do fogo antes que ele me corroa mais. Arrumar as minhas gavetas, as minhas bagunças internas, antes que a tralha despenque de dentro do armário e caia sobre mim.
Todo dia um pouquinho. Todo dia um “só por hoje”. Porque a coisa não precisa virar uma bola de neve e arrasar todo mundo, sobretudo você. Principalmente você. A mão que tá na brasa é a sua, mesmo que você tenha a intenção de atingir o outro com a chama.
A dor é sinal de alerta. E ensina um mundo de coisas pra gente. Um dia escutei da Alana: “Antes da consciência, o sofrimento é um pouco necessário”. E eu não poderia deixar de concordar com isso com todas as células do meu corpo.
“O seu maior erro é que você sente demais”.
Fotos: divulgação.
Ana Paula Ramos é coach de vida e reorientação vocacional, jornalista, escritora e idealizadora do blog Cookies and Words, o lugar que ela criou sem querer e que acabou se transformando na essência do seu trabalho. Para ajudar outras pessoas a se reconectarem com elas mesmas e trazerem mais vida pra própria vida, criou a Escola de Buscadores, um lugar onde todo mundo aprende e todo mundo ensina! Pra saber mais clica aqui.
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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