Não sei se vocês já notaram, mas eu tenho presenciado muito disso ultimamente: as pessoas estão doloridas demais! Não se pode dizer um “a” e já fecham a cara, cortam relações, ficam na defensiva, criam um bico do tamanho do mundo e remoem aquilo como se fosse o problema mais grave de todo o universo. Gente, o que está acontecendo?
A impressão que tenho é a de que só podemos abrir a boca se for para elogiar, para puxar o saco ou, na pior das hipóteses, falar o que as pessoas esperam ouvir. Não é mais possível sermos nós mesmos, termos as próprias visões e opiniões sobre coisas, situações e pessoas. É abrir a boca para ser bonzinho e olhe lá!
Ai de você se virar para alguém dentro do ônibus e dizer que aquele assento é preferencial. Lá vem a passageira com um monte de palavrões (presenciei uma cena assim dia desses, de verdade)! Ai de você reclamar no restaurante que a sua comida veio fria, que tinha bichinho na salada ou que o pedido foi trocado. No mínimo, a impressão que fica é a de que seu lanche virá cuspido da próxima vez. Ai de você virar para um amigo e revelar que não gostou do comportamento dele na sua festa de aniversário. Lá vem ele com um dolorido “da próxima vez não me chame”. Ai de você criticar a conduta do atendente do banco. Lá vem o moço justificar dizendo que a vida é assim mesmo, “aceite”.
Quer dizer então que a regra agora é aceitar todos os tipos de comportamentos sem falar nada? Sou uma pessoa muito positiva e, para me tirar do sério, é preciso muito. Aceito bem, respiro fundo, tento sempre pensar antes de falar ou agir. Em geral dá certo. É preciso um filtro, sabe? Há coisas pelas quais realmente não adianta se estressar. As coisas acontecem e você vai filtrando, jogando uma na caixinha do deixa-pra-lá, outra na gaveta do respira-que-passa, e outras tantas no gigante armário do não-vale-a-pena-perder-meu-tempo.
Mas têm coisas que não cabem em nenhum desses recipientes. Aquelas que são a gota d’água. O balde transborda, a caixa rasga, o balão estoura e a paciência, meu bem, tem limites. E aí você fala. Tenta falar com jeito – afinal, te deram educação. Mas não adianta, a impressão que fica é a de que você deveria mesmo ter ficado quieto.
O que é isso, alguém sabe? Estamos todos passando por uma fase ultrassensível ou é o nosso saco que simplesmente está cheio demais? Fico pensando se nossas rotinas, a situação atual do país, as dores de cabeça no trabalho ou o grande fluxo das grandes cidades estão nos deixando sem tato – sem paciência até mesmo para as pessoas mais queridas que, com toda a certeza do mundo, abrem a boca para nos ajudar, para nos fazer crescer e amadurecer, e jamais para criticar sem motivo.
Estamos todos vivendo receosos, tendo que engolir todos os sapos do mundo e mais alguns, empurrando a própria opinião lá para o fundo da caixa e sentando em cima para que ela não escape. Nós, que escutamos a vida inteira para não sermos ‘Maria-vai-com-as-outras’, nos anulando pela opinião dos outros, com medo de sermos ridicularizados em público, com medo de perder a companhia de uma pessoa que nos é rara, sentindo o coração apertado e dolorido, mas sem poder (ou querer) dizer nada por causa da sensibilidade excessiva daqueles que nos escutam. E o pior, até aqueles que sempre deram a cara à tapa estão ficando calados. É como se estivessem cansados de remar sozinhos. É o velho e triste “não adianta falar”.
Cadê as pessoas fortes, que pegam as críticas no colo e as reconhecem como seus erros? São feias, sim. E doloridas! E difíceis de lidar. Mas são, ao mesmo tempo, chances para fazer diferente da próxima vez.
Sou da época – e acredito que vocês também – em que a nota baixa na prova ou o puxão de orelha do professor por eu estar conversando demais durante a aula eram a minha chance de fazer melhor na próxima oportunidade. Um professor, que já estudou a vida inteira e que está ali todos os dias para me ensinar o que sabe, me dizendo que faltou pontuação na frase ou que a fórmula matemática que usei não era a certa… que chance maravilhosa de aprender! Meus pais nunca foram até a escola tirar satisfação por isso e aposto que o de vocês também não.
Vamos parar de ser mimados e achar que o mundo foi programado para nos agradar! Quer coisa mais especial do que um amigo que se sente à vontade o suficiente para ser verdadeiro e dizer que ficou chateado com um comportamento nosso, nos dando a oportunidade de fortalecer a amizade ao invés de simplesmente jogar tudo janela abaixo? Que delícia poder conviver com aqueles que falam com o coração e que, ao falar, buscam não apenas criticar construtivamente, mas principalmente melhorar o que já é bom.
Estar à vontade para comunicar um sentimento que está guardado é uma das liberdades mais bonitas entre duas pessoas! Saber ouvir e saber reconhecer talvez sejam umas das atitudes mais nobres do ser humano – baixando a cabeça a pedindo desculpas não a tudo, muito menos a todos, mas àqueles que têm razão sobre o que dizem, sejam eles velhos conhecidos ou total estranhos.
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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