*Por Gabriel Macedo em 17 de março de 2016.
Meu nome é Gabriel. Tenho 28 anos, sou de Franca, no interior de São Paulo, virginiano e depois de muito tempo sabendo o que eu queria da minha vida, passei a não saber mais.
A vida tem dessas coisas. Do nada o mar vira e nem dá pé mais. O jeito é aprender a nadar para um lugar seguro… ou não.
Sempre quis um sabático na minha vida. Mas nunca me planejei pra isso. Nunca pensei que teria um e então abro a porta de casa e a vida grita “SURPREEEEESA”. 6 meses inteiros só meus, é mole? Então vem cá que eu conto tudo, tim tim por tim tim de como foi e está sendo essa história.
As coisas pra mim sempre aconteceram com uma certa facilidade, eu poderia assumir, claro. Para começar, prestei vestibular para direito no terceiro colegial e 3 meses depois estava prestando publicidade no Mackenzie. Única que tentei, pra falar a verdade. Comecei a trabalhar em uma extinta agência chamada Lumina 1, na qual ouvi pela primeira vez, de forma séria, a célebre frase “Manda quem pode. Obedece quem tem juízo”. E foi assim que estreei nesse mundo do ~glamour~ publicitário.
Depois da Lumina1, me mudei pra WMcCann, agência em que fiquei, entre idas e vindas, quase 5 anos atendendo grandes contas, como HP, Forno de Minas , Sorriso e a principal, MasterCard. Foi nela que aprendi a maioria das coisas que sei até hoje e aprendi com gente muito boa.
Comecei um MBA em marketing na ESPM que durou 2 anos. Nesse tempo, aproveitei para fazer o módulo internacional em Miami, na FIU, que é uma grande faculdade.
Na agência África tive a primeira reviravolta em 6 anos de profissão, que foi quando notei que algo estava errado e esse erro estava em mim mesmo. Após um mês de casa decidi que, naquele momento, eu não procuraria mais emprego e que eu precisava de um tempo pra mim. Saí da agência, o que coincidiu com o fim do contrato do mini apartamento em que morava na Rua Bela Cintra: eu pagava uma fortuna e o contrato venceria em 1 mês. Logo, decidi que essa era a hora de jogar tudo pro alto e me conhecer melhor. Eu não esperava que isso fosse um sabático. Eu tinha outros planos, inclusive uma viagem de 20 dias pela Europa e nem eu sabia se voltaria de lá ou não. Enfim, eu estava fazendo parte daquele grupo de pessoas que abandonou tudo pra se conhecer, sem nem mesmo saber.
Posso dizer que consegui construir um curriculum bem interessante.
Nesse período, resolvi que faria freelas para me manter, devolvi o apartamento ao proprietário, juntei minha trouxinha e, 9 anos depois de ter vindo pra São Paulo, voltei para casa dos meus pais em Franca, onde eu teria casa, comida, roupa lavada e amor. Era tudo que eu estava precisando. Comecei a definir no que eu poderia fazer freelas e buscar trabalhos. Em um dado momento, as pessoas começaram a me procurar e eu consegui me manter tranquilamente com o dinheiro que ganhava, inclusive voltei para São Paulo para um freela de 1 semana na Wunderman.
Chegou então o dia da viagem pela Europa. Passaria 4 dias com um dos meus melhores amigos na Itália e depois cada um seguiria seu rumo. Então passei 16 dias sozinho entre um país e outro. Amigos novos, novas línguas, outras moedas e muito cansaço de andar pra cima e pra baixo. A viagem foi mais interna do que externa, posso dizer. Eu estava mais dentro de mim mesmo do que na Europa. Os dias sozinho fazem a gente pensar em nossos problemas, em nossos pontos fortes, em nossa coragem de fazer as coisas e nos fazermos muitas perguntas com sentido, mas que, na maioria das vezes, não têm respostas. Isso gera muita ansiedade.
Voltei pro Brasil com dever de casa: precisava me conhecer a fundo e saber pra onde ir. Quando não se sabe onde ir, qualquer lugar está bom. Mas pra mim, qualquer lugar nunca foi bom. Porém, confesso: estar perdido é uma arma contra o sono, contra a paz interior, mas muito proveitosa porque o mundo se abre em possibilidades. E eu digo o mundo literalmente. Você está livre pra ir a qualquer lugar.
Eu sempre li muito sobre pessoas que fizeram seus sabáticos e como elas mudaram suas vidas. Aquelas pessoas que ficaram 6 meses na Ásia com os monges meditando. Ou aquelas que foram dar a volta ao mundo para ter insights. Mas nunca li sobre o que as pessoas sentiam em seus momentos. Apenas sobre o depois. Pra começar, sabático não precisa de viagem ao sudeste asiático ou pra qualquer rincão distante de qualquer lugar. Um lugar sem internet ou raspar a cabeça, vestir uma túnica laranja e meditar. Ele pode acontecer em qualquer lugar. Dentro de casa, na casa da sua avó, da sua tia. Pode acontecer num parque, porque o sabático está dentro de nós e não fora. É um mergulho interior pra mexer em feridas que muita gente não sabe nem que tem. E posso confessar: é dolorido pra caralho.
A gente passa a ver problemas e defeitos nossos que nos deixam sensíveis, ansiosos pela mudança, ainda mais se levarmos em consideração que vivemos a era da ansiedade com a velocidade da internet, o “visualizado às”, a setinha azul e o “visto por último” do Whatsapp. Somos um poço de ansiedade.
Pra mim, esse tempo de autoconhecimento tem me tirado o sono, ainda mais por ser virginiano da gema, que nunca sabe se casa ou se compra uma bicicleta. São tantas opções que às vezes não sei se quero ser lixeiro ou astronauta. Mas posso dizer uma coisa: o mundo, pra mim, ficou bem menor. Eu tenho a possibilidade de recalcular a minha rota, como diz o GPS ou o livro que li. É legal a gente saber o que nos move. O que nos faz bem e o que nos faz mal. Isso nos torna mais tolerantes com os outros e mais respeitosos conosco. Respeitar-nos é o mais importante de tudo.
Muita gente confunde autorrespeito com não fazer nada que eu não queira fazer. Mas muito pelo contrário. Respeitar-se é muito mais de saber o nosso limite e fazer o que deve ser feito sem passar por cima dos nossos princípios. Não aceitar atitudes abusivas de outras pessoas, não aceitar falta de respeito e de consideração. É ter o dom de se respeitar e respeitar os outros ao mesmo tempo, fazendo o que deve ser feito, a gente gostando ou não.
Nesse meu período eu, que sempre gostei de correr e me alimentar bem, resolvi voltar a correr e posso afirmar que esse é o momento mais importante do meu dia. É quando eu me sinto vencedor, quando eu me sinto livre e que me dá gás para ~correr~ atrás dos meus sonhos que ainda estou descobrindo. Da corrida eu saio com mais ideias, clareio a mente e tenho fôlego para mais um dia para me conhecer e aprender a me amar mais.
Hoje em dia temos vários aparatos que nos ajudam a atravessar esses momentos, como os smartphones e os aplicativos como o Nike Running e o Spotify que são meus grandes companheiros. Pelo Nike Running eu consigo medir minhas corridas e colocar minhas metas pra bater no dia seguinte e as músicas do Spotfy me ajudam no fluxo de pensamento e a manter o ritmo da corrida. A vida, pra mim, é como uma corrida: a gente precisa de meta, a gente precisa saber onde chegar, como chegar e suar, suar muito, porque nada vem fácil, autoconhecimento menos ainda.
Se me perguntarem hoje se eu já sei pra onde ir, a minha resposta é negativa. Mas posso afirmar que estou mais perto de lá do que estava 5 meses atrás ou, mais ainda, 2 anos atrás.
Cada dia um passo novo, cada dia mais amor e mais respeito, por mim mesmo e pelos outros que me cercam.
Se você quer tirar um período da sua vida pra se conhecer, o meu conselho é que você o faça. Planeje-se e prepare-se para sair do marasmo e da zona de conforto e entrar num mar cheio de tempestades e ondas grandes, mais ali na frente, eu garanto, vai ter uma cadeira em uma praia deserta com uma água de coco esperando por você.
O trabalho (de auto-conhecimento) dignifica o homem.
Uma carta de alguém que está louco pra se conhecer.
Imagens: Google, symphony of love via VisualHunt / CC BY-SA ,
Gabriel Macedo é publicitário formado pelo Mackenzie, com MBA em Marketing pela ESPM e MBA em Internacionalização de Marcas pela FIU, em Miami. Passou por grandes agências de propaganda do país, trabalhou com planejamento digital de marcas internacionais. Faz jus ao seu signo de virgem e adora ler nas entrelinhas, além de analisar e pesquisar tendências e hábitos de consumo. Aproveita para escrever sobre as suas experiências em seu blog www.opulochines.com.br. Em agosto de 2015 largou tudo para começar uma busca incessante por auto conhecimento e agora começa a colocar em prática seus projetos pessoais em busca da felicidade.
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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