Eu estou incomodada. Incomodada com a minha vida. Incomodada com minha rotina. Incomodada com meus padrões de pensamentos limitantes. Incomodada com as discussões vazias sobre política. Incomodada comigo. Incomodada com o mundo.
Sinceramente, acho que “incomodada” é um estado de espírito constante em minha vida. Quando a coisa vai ficando muito normalzinha, quando eu perco o brilho no olhar, quando eu perco a paixão que me move, eu dou logo um jeito de dar uma chacoalhada em algum aspecto da minha rotina pra que eu possa, de alguma forma, me sentir caminhando novamente.
Durante anos me incomodei com o estilo de vida paulistano. Digo paulistano pois é de onde eu venho e o único lugar onde morei enquanto no Brasil. No meu ponto de vista, é um lugar com um estilo de vida único e totalmente peculiar, que acho difícil que possa ser comparado com algum outro canto do país. Tenho ainda hoje aquela rotina insana como base pras minhas reflexões simplesmente por ser a realidade que eu conheço e vivi por 26 anos da minha vida.
Sou de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, o que significa que passei a vida nos metrôs e ônibus da região, trabalhando em uma cidade, estudando em outra e morando em uma terceira. Fui uma adolescente muito responsável, estudiosa, que começou a trabalhar com 15 anos, saiu do colégio direto pra faculdade de Turismo, conseguiu estágio ainda no segundo ano da universidade, comprou seu primeiro imóvel e carro zero aos 22 anos de idade e casou aos 23. Eu fui parte ativa na construção de uma vida que eu sinceramente achava que era a ideal pra mim e por muito tempo tudo funcionou muito bem.
Mas peraí! Nesses 20 e tantos anos, será que alguma vez eu parei pra pensar que poderia existir uma outra forma de vida? Alguma vez eu parei pra refletir sobre o estilo de vida que eu levava, se era isso o que eu gostava e se era essa a vida que eu queria pra mim?
Eu queria passar 4 anos pagando um carro? Eu queria passar 11 meses me queixando do trabalho pra ter um mês de férias e viajar pra onde eu quisesse? Eu queria passar 30 anos pagando um imóvel num local que não me proporcionava o estilo de vida que eu sonhava ter?
Não, eu nunca tinha parado pra pensar, eu apenas fiz o que todo mundo fazia, o que era “normal”. Eu segui o modelo que eu conhecia e minha vida estava caminhando pra frente, como eu aprendi que deveria ser. Em breve eu teria filhos, eu construiria uma família, eu teria uma vida perfeita seguindo todos esses padrões.
Até que, um belo dia, eu comecei a me fazer perguntas.
Não sei dizer exatamente quando foi. Talvez numa das vezes que fiquei 5 horas dentro de um ônibus pra chegar da Vila Olímpia até São Bernardo. Ou talvez em uma das vezes que fiquei presa numa enchente sem poder voltar pra casa depois do trabalho. Pode ser também que tenha sido num dos tantos dias que trabalhei das 7 da manhã às 10 da noite, pois eu tinha muita coisa pra fazer no escritório e, de qualquer forma, o trânsito é tão enlouquecedor no horário de pico que era melhor ficar trabalhando enquanto esperava ele ficar menos ruim.
Eu não sei, de fato, dizer exatamente quando foi, mas teve um momento em que eu comecei a me fazer muitas perguntas e isso de certa forma me custou um casamento. Eu não queria mais aquela vida, ele ainda queria. Eu não sabia mais se queria filhos, ele ainda queria 2, talvez 3. Eu estava mudando numa velocidade que nem eu mesma conseguia acompanhar, não podia esperar que ele conseguisse! Foi duro, mas foi o preço que paguei.
Desde aquela época, não consigo parar de pensar em como é incrível que a gente passe uma vida inteira simplesmente seguindo o fluxo, fazendo o que todos estão fazendo, sem nunca parar pra pensar em que estilo de vida gostaria de levar. Perdendo nossas vidas em escritórios pra fazer um trabalho que nem sabemos mais se gostamos de fazer. Perdendo um tempo precioso em trânsitos insanos, em rotinas enlouquecedoras, em faculdades de qualquer coisa só pra ter um diploma porque, se arranjar emprego com diploma já é difícil, imagina sem?! Nos endividamos numa infinidade de carnês para comprar coisas que nunca paramos pra pensar se realmente queremos.
Tudo isso porque não nos fazemos perguntas.
Hoje estou vivendo mais uma fase de transição, tentando redesenhar minha vida em meio a passado, presente e futuro, num processo de descoberta de quem eu sou, o que eu quero e o que eu gosto de fazer. Não admito passar por essa única vida (pelo menos eu acredito que não teremos outra) de uma forma tão irracional, me comportando como um robô, levando uma vida sem parar para raciocinar e sem me perguntar, de verdade: O QUE ESTOU FAZENDO DA MINHA VIDA?
Eu ainda não encontrei todas as respostas que procuro. Vivo uma mutação constante, uma eterna redescoberta; e penso, reflito, me questiono muito, a todo momento. Sei apenas de uma coisa: já não tenho mais casa própria, carro e nem um rumo bem definido, mas sei exatamente qual é a vida que quero viver e que faz sentido pra mim. Só por isso, sinto que estou mais perto dela do que jamais estive antes.
Sigo incomodada. E que assim seja, enquanto tiver que ser…
Carol Sales se formou em Turismo pela Universidade Metodista de São Paulo aos 21 anos, casou-se aos 23, se separou aos 25, se mudou pra Nova Zelândia aos 26, conseguiu um emprego na sua aérea de atuação aos 27, virou gerente 3 meses depois e pediu demissão no auge da carreira. Nesse momento está em sua casa, em Auckland, trabalhando ativamente na (re)criação de sua carreira e de um novo estilo de vida, mais saudável e mais alinhado com seus valores mais profundos. Escritora desde criancinha, acredita como ninguém no poder transformador das viagens e está relatando, em tempo real, o dia-a-dia de sua mudança de vida no crisedos30.com, onde encarou o desafio de escrever todos os dias por 222 dias.
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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