Mas o fato é que apesar de todo esse intenso movimento de pessoas em busca de sentido para suas vidas, de tantos livros, encontros e palestras, de tanta falação em torno do assunto, não se fala em hipótese alguma no ponto crucial da jornada espiritual de um ser humano. Ao contrário, muito “xamanismo cor-de-rosa” e discursinho hippie-haribô é o que abunda por aí; discursos ocos destinados a plateias de smurfs ou ursinhos carinhosos: “é preciso abrir o coração”, “abrir-se para a maravilha da vida”…abrir o coração? Mestre espiritual ou cardiologista, meu chapa?
O estilo ‘cor-de-rosa’ de grande parte dos “mestres espirituais” contemporâneos é absolutamente inócuo para o homem moderno, pois não reflete sua realidade cotidiana, a realidade que molda e constitui seu caráter, sua psique. Pode funcionar para alguns, mas é ineficaz em grande escala, entrando por um ouvido e saindo pelo outro na maioria dos casos, deixando talvez no máximo um souvenir fofo de lembrança pra colar na porta da geladeira da consciência. Bullshit das grossas.
Num mundo distópico como o atual, de total esvaziamento de sentido e significado frente à completa tecnização da vida e coisificação do Ser, e que de quebra ainda vive grande ansiedade de uma 3ª guerra mundial, um “ursinho carinhoso” não é capaz nem de fazer cócegas, quanto mais provocar o tsunami interno necessário a um despertar de consciência. O mundo contemporâneo exige mestres loucos, como os antigos avadhutas, místicos da antiga Índia que viviam além da moral e se utilizavam de métodos nada ortodoxos para despertar as pessoas do sonambulismo, como batê-las com varas de bambu ou jogá-las da ponte. E uma (in)consciência grotesca e bestializada como a do homem contemporâneo só poderá responder, reagir de alguma forma (pois que se encontra num coma tão profundo, quase morte) a um estímulo deveras agressivo e implacável, que não dê as menores chances aos mecanismos de fuga e auto sabotagem que todos nós carregamos em nosso software pessoal.
Esqueça todos os supostos mestres e gurus insossos que não refletem em nenhuma dimensão a sua realidade, que não lhe inspiram a menor empatia. Se eles lhe parecem todos distantes, é exatamente porque na verdade não há ninguém ali. Não, não é você que é burro ou não consegue apreender a “magnitude de suas palavras”, são apenas discursos impessoais que falam de ninguém para pessoa alguma. Se queres compreender como atingir um estado de imunidade psíquica a esse tipo de charlatão, assista “O Grande Lebowski”, um belo exemplo de alguém que simplesmente flui livremente na vida, pulsando um legítimo ‘foda-se’ e existindo de forma autêntica.
Se você acatar a todas as opiniões você deixa de viver, não sai do lugar, imobilizado pelo juízo alheio. Compreender realmente a dimensão fundamental do ‘foda-se’ e vivê-lo; não dizê-lo da boca pra fora em tom de revolta pueril, mas SÊ-LO, eis o ponto crucial. Simplesmente seja um pleno foda-se para todas as vozes que vivem na sua cabeça te dizendo que você não é bom o bastante, isso e aquilo etc. Foda-se o que qualquer suposta autoridade em seja lá o que for disser ou puder pensar do que você faz; que se foda, e faça as suas coisas do seu jeito. Um honesto e vibrante ‘foda-se’ é uma palavra mágica que exorciza demônios e restabelece a paz de espírito. Seja simplesmente o que essa força colossal que vive soterrada sob milhares de vozes castradoras está se contendo há eras para ser. Desperte o foda-se, e apenas seja. Não há modelo ideal, não há perfeição, não há lugar algum aonde chegar. Apenas deixe sair o que já está e sempre esteve aí dentro. Desative o firewall pessoal, ative o foda-se, e seja você.
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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