* Por Caroline Sales em 1° de fevereiro de 2016.
Era novembro de 2014 quando comecei a fazer o meu primeiro processo de coaching.
Naquela época, eu estava completamente perdida. Perdida e maravilhada com a quantidade de pessoas que estavam tão perdidas quanto eu. Sim, tem bem mais gente perdida no mundo do que aquilo que a gente acha que vê no Facebook…
Eu estava morando na Nova Zelândia há 3 anos e meio, e fazia pouco mais de 2 anos que eu tinha assumido a gerência geral de uma operadora de turismo em Auckland. Eu tinha uma carreira considerada bem sucedida, ou ao menos uma carreira que estava caminhando pra algo ainda maior. Eu representava a empresa nos maiores eventos internacionais do Turismo, tanto na Nova Zelândia, quanto na Austrália, ou mesmo nas ilhas Fiji. Meu salário bancava uma vida que era super simples (desde que me mudei do Brasil minha relação com o consumismo mudou drasticamente, então meus gastos eram basicamente com comida, moradia e entretenimento, nada mais), mas me permitia morar no bairro que eu queria, e fazer uma poupança pras minhas viagens e pra bancar projetos futuros.
Eu tinha tudo pra estar feliz, mas eu não estava. Eu trabalhava com o que sempre foi minha paixão – o Turismo – mas eu estava deixando de ver sentido naquilo. Eu vendia um Turismo que eu não consumia, eu usava toda minha criatividade para produzir roteiros que eu jamais compraria: onde pessoas passam seus dias dentro de ônibus fazendo os passeios “must do” e o importante é pisar no maior número de lugares possível no menor espaço de tempo. Não é assim que eu viajo, não é nesse turismo que eu acredito. Eu queria mais! Eu queria um trabalho com significado, eu queria saber se aquela era mesmo a minha maior paixão. Eu queria descobrir o meu propósito, a minha missão.
Putz, será que eu tenho uma missão?
Depois do frio na espinha inicial (afinal, descobrir sua missão é algo enorme, altamente desafiador e dá até um medinho), eu comecei a ficar encasquetada com a ideia de que eu só seria feliz no trabalho quando eu descobrisse aquilo que eu verdadeiramente nasci pra fazer, o meu propósito, a minha missão. E tinham tantas pessoas na mesma situação! A grande maioria, dentro daquele processo de coaching em grupo, estava determinada em descobrir sua missão. Então eu fiquei mais tranquila: eu devia mesmo estar no caminho certo.
Com o passar do tempo, eu comecei a perceber que muita, mas muita gente mesmo, empacava logo que percebia que descobrir seu propósito não seria algo tão fácil assim… Eu cheguei a presenciar pessoas completamente desesperadas em webinários (o que, pra quem não sabe, são palestras online), pois não conseguiam saber exatamente o que tinham nascido pra fazer: estavam infelizes com suas vidas profissionais, mas simplesmente não sabiam para onde ir – sentiam que o próximo passo tinha que ser certeiro, que tinham obrigação de saber exatamente o que fazer pro resto de suas vidas.
Afinal, como assim uma pessoa não sabe qual a sua missão?
Eu me considero uma pessoa “de sorte” por ter descoberto, em tão pouco tempo, a armadilha que eu estava criando pra mim mesma. Essa coisa de “descobrir a missão” e “criar um trabalho com propósito” é muito pesada, deixa a gente doidinho e coloca uma pressão desnecessária num processo que já é difícil o suficiente, não precisa ficar mais.
Eu passei dias e noites em claro tentando criar um projeto que tivesse a ver com turismo responsável, turismo cultural e sustentável, do jeitinho que eu acredito, pois eu achava que só podia estar aí a minha missão – afinal, eu não tinha dúvidas (e ainda não tenho) da dimensão da minha paixão por esse tema. Mas a verdade é que quanto mais eu me forçava a criar uma missão pra mim mesma, mais eu me frustrava e me desesperava, e maior ficava a minha angústia por acreditar que eu precisava cumprir “essa etapa” antes de dar o próximo passo.
Foi aí que eu resolvi mandar a tal da minha missão às favas!
Eu resolvi dar ouvidos às várias pessoas que eu seguia no mundo digital que diziam que o ‘como’ não é nossa responsabilidade. Que a gente precisa se colocar em movimento primeiro, dar o primeiro passo, e depois as coisas vão se encaixando. Eu não entendia como eu poderia me colocar em movimento sem nem saber pra que lado ir, mas quando eu silenciei todas as vozes ao meu redor, parei tudo, e resolvi escutar meu coração, eu percebi que a única coisa que eu tinha vontade de fazer naquele momento era escrever. Decidi então compartilhar com as pessoas o quão perdida eu estava, sem ter ideia do que aconteceria mais pra frente, correndo inclusive o risco de não ter um final feliz pra contar e até mesmo de, lá na frente, perceber que o que eu estava fazendo era nada mais, nada menos, do que compartilhar a história do meu fracasso. Mas eu paguei o preço: em 10 dias coloquei o Crise dos 30 no ar, sem nenhum conhecimento de tecnologia e sem fazer ideia de como criar uma página na internet.
Enquanto eu me desafiava a escrever ao menos um post todos os dias, usei esse tempo para entrar de cabeça no meu processo de autoconhecimento, e tirei dos meus ombros o peso de ter que ter as respostas. Fiz o que eu podia fazer com as ferramentas que eu tinha no momento: comecei a adquirir novos hábitos, a me dedicar mais à minha saúde física e emocional, a cuidar do que eu estava permitindo que entrasse na minha mente. Decidi não mais assistir tv, procurei (e achei!) pessoas que estavam disseminando lindas mensagens pelo mundo afora, comecei a participar de grupos de pessoas que também estavam nessa mesma vibe.
Comecei a receber feedback sobre as coisas que eu escrevia, fiz amizade com gente que nunca tinha visto antes e que só cruzou o meu caminho porque leu e se identificou com as histórias que eu estava compartilhando. Novas paixões se revelaram, algumas (que estavam adormecidas) acordaram, eu voltei a estudar, a me aperfeiçoar. Hoje tenho uma nova carreira, já tenho meus primeiros clientes e escrevo em sites de gente que admiro muito, a começar aqui pelo Recalculando a Rota, grupo do qual tenho o maior orgulho e me sinto honrada em fazer parte. Há 6 meses eu jamais imaginaria que isso pudesse acontecer!
Ainda tô engatinhando, é fato, mas existe um mundo novo se descortinando à minha frente, e eu sou grata por ter apostado as fichas mesmo quando ainda não conseguia enxergar nem mesmo um palmo à minha frente.
Tudo isso sem ainda saber exatamente qual é a tal da minha missão…
Imagens: Visual Hunt, Google.
Carol Sales se formou em Turismo pela Universidade Metodista de São Paulo aos 21 anos, casou-se aos 23, se separou aos 25, se mudou pra Nova Zelândia aos 26, conseguiu um emprego na sua aérea de atuação aos 27, virou gerente 3 meses depois e pediu demissão no auge da carreira. Nesse momento está em sua casa, em Auckland, trabalhando ativamente na (re)criação de sua carreira e de um novo estilo de vida, mais saudável e mais alinhado com seus valores mais profundos. Escritora desde criancinha, acredita como ninguém no poder transformador das viagens e está relatando, em tempo real, o dia-a-dia de sua mudança de vida no crisedos30.com, onde encarou o desafio de escrever todos os dias por 222 dias.
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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1 comentário. Deixe novo
Carol, muito interessante o teu post. Entendo que não saibas qual a tua missão, num formato declarado como aprendemos nas escolas de coahing. Mas percebo que está vivendo sua missão. E isso é o que importa. Afinal, para que ter uma missão descrita se ela pode ser simplesmente sentida? ?