*Por Aline Xavier em 28 de março de 2016
Um dos recursos da rede social de Mark Zuckerberg tem o objetivo de nos fazer recordar de posts antigos que fizemos no mesmo dia e mês, em anos anteriores. Muitos compartilham imagens, vídeos e atualizações de status diversos. Como a frequência das minhas postagens é intensa, todos os dias eu vejo as principais recordações. Raramente compartilho. E sim, sei que é possível desabilitar essa funcionalidade do Feed de Notícias. Porém, por causa do meu incômodo excessivo com essa ferramenta, resolvi fazer um exercício de observação – uma espécie de laboratório interno – pra tentar entender porque um conteúdo produzido por mim, por livre e espontânea vontade, causava tanta aflição.
Descobri que me envergonho absurdamente do meu passado no Facebook. E continuo a ler essas coisas que me perturbam, pois acho necessário para trabalhar o orgulho e para o meu crescimento pessoal. Já reproduzi machismo, tive falas homofóbicas, já desejei ser da elite – não apenas pela questão financeira, mas pelo acréscimo intelectual que acreditei que isso me traria, já fui capacitista e até há alguns poucos meses, tinha um preconceito linguístico absurdo, resultado da minha ignorância por ficar bitolada com os longos anos de gramática normativa estudados em cursinhos preparatórios pra concursos. Este último preconceito, vez ou outra, ainda cometo. Entretanto, tenho me policiado de forma bem rígida, a fim de evitá-lo.
Sobre as lembranças de um dia aleatório qualquer: há várias postagens moralistas e cagadoras de regra. Eu continuo, como há dois anos, não tendo religião e me posicionado contra a forma que essas instituições são estruturadas, mas não preciso, hoje, chamar pessoas que as seguem obcecadamente de burras, idiotas e acéfalas. Para alguns casos, intolerante basta. Hoje, não sou escrava da chapinha nem do secador – viva o natural, mas tenho a obrigação respeitar de pessoas que estão presas a esses padrões capilares e oscilam entre a transição e a química – afinal, cada um tem seu tempo de desconstrução. Rir da maquiagem alheia é coisa de gente desnecessária – e eu fui uma delas.
Criticava quem seguia modinhas, e logo em seguida caía em contradição. Chamei de jacu quem foi eliminado do ENEM 2013 por tirar foto do caderno de prova durante o exame, mas há menos de um mês quase perdi um voo por pura displicência e falta de atenção ao ler o cartão de embarque. Falei mal da minha família, muito mais do que deveria – ainda falo, porém com mais critério e maturidade, e não como quem quer vencer um cabo de guerra. Curtia montagens de uma página que zoa a escrita alheia. Criticava os gostos das adolescentes de hoje. Logo eu, que gostava de… deixa pra lá. Patrulhava a sexualidade das mulheres, mas compartilhava foto de homem sarado com legendas que atualmente fazem com que eu – como diria Bola de Fogo – queira me enterrar na areia. Quer hipocrisia maior que essa?
E tudo o que relatei não faz parte de um passado deixado no crematório. Ser uma pessoa menos preconceituosa é um exercício a ser feito em todos os instantes da minha vida. Posso ter sido patética ao escrever esse texto, inclusive. Posso ofender você amanhã. O mais importante é que eu quero melhorar sempre. E que dentro da minha absoluta imperfeição, eu tenho feito o máximo possível, pois a vida é uma eterna desconstrução.
Imagens: Visualhunt , lism. via VisualHunt / CC BY-NC , Mike Rohde via Visual Hunt / CC BY-NC-ND
Ex-concurseira olímpica, amante da escrita e fascinada por relações humanas. Psicóloga para os amigos, não sabe o que fazer com a própria vida. Apaixonada por pessoas consideradas ovelhas negras, com as quais comumente se identifica. Atualmente funcionária pública, está na jornada em busca do seu propósito. Escreve sobre um pouco de tudo em alinexavier.me, no blog Superela e em facebook.com/alineandxavier.
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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1 comentário. Deixe novo
Caramba, você disse tudo! Amei seu texto.