Tem umas coisas que eu juro que acontecem só comigo, eu acho que pelo fato de ser escritora. Parece que algumas histórias precisam vir pro mundo, então elas acontecem comigo, porque sabem que eu vou registrá-las e espalhá-las. Eu sinto Deus às vezes zoando com a minha cara…
Hoje, depois de todas as emoções que eu vivi desde o momento que abri os olhos (o servidor do site caiu, o link do programa deu pau, meu video-maker estava incomunicável, o vídeo não subia, uma entrevista em rádio nacional, a newsletter no Hypeness, as manchetes em vários veículos, o sucesso estrondoso do Programa Recalculando a rota, as centenas de mensagens emocionantes, etc, etc.) eu resolvi desopilar. Me bateu um certo medo da coisa tomar uma proporção maior do que eu posso atender, do que é humanamente possível suportar. Me bateu um medo de decepcionar. Me bateu um medo de me responsabilizar por algo que me parece ser muito maior do que eu mesma.
E a melhor coisa a se fazer quando sentimentos como este me tomam é meditar. E não existe melhor meditação para mim do que uma corrida na praia, seguida de 10 ou 15 minutos de silêncio. Então eu fui… E a praia onde minha mãe tem casa fica deserta nesta época do ano, o que eu acho uma delícia quando preciso trabalhar.
Mais ou menos na metade do caminho, vi um cachorro preto grande vindo na minha direção. Eu adoro cachorros, não tenho medo deles. Olhei para ele e segui correndo devagarzinho, sem me alterar em nada. Só que o bicho veio seco e direto na minha canela… mordendo com uma certa força. Não para abrir a carne, só que também não era para brincar. Então eu parei imediatamente, fiquei imóvel e tentei falar docemente com ele. Tentei fazer carinho nele, deixá-lo calmo. E ele respondeu com uma mordida na minha mão. Então tentei de novo caminhar… mas a cada passo que eu tentava dar, ele novamente me mordia. Meu tênis, minha canela. E latia. E a praia estava totalmente vazia. Era eu ali naquela situação: eu e o cachorro preto, olhando pra mim e arreganhando os dentes para me atacar. E a cada passo que eu dava ele ficava bravo e me mordia, e as mordidas estavam ficando mais fortes, até o momento que eu vi que eu ia ter que brigar. Eu ia ter que fazer com que ele ficasse com mais medo de mim do que eu estava dele. Então na próxima vez que ele veio em direção a minha canela, eu tive que unir todas as minhas forças, toda a minha vontade, toda a minha garra, todo o meu instinto, toda a minha bravura. E eu fiz tudo isso chorando… (só Deus sabe o quanto eu abomino maus tratos com animais!)
E eu olhei nos olhos dele, soltei o berro mais alto que eu podia e dei o pontapé mais forte que eu era capaz naquele bicho! Ele deu um berro e saiu correndo… só que voltou com ainda mais sangue nos olhos. Então eu corri para o mar! Entrei com água pela minha cintura… e ele veio atrás até onde não precisava nadar! Eu jogava água nele e gritava, gritava cada vez mais alto. E a cada vez que eu fazia isso, ele saia da água. Eu procurava alguém na praia, não havia uma viva alma. Mas fui ficando mais calma. Me dei conta no mesmo momento que ele estava ali representando o medo que eu estava sentindo… E na iminência de um medo REAL no meu caminho, todos os outros se esvaíram, todos os outros se pulverizaram. No exato segundo que eu me dei conta disso, o cachorro olhou pra mim uma última vez, saiu correndo sem jamais olhar pra trás. Chocada, toda molhada e chorando desesperadamente, eu me dei conta da minha coragem. E de que às vezes, para enfrentar o medo, a gente precisa estar lutando pela nossa própria vida. E de que quando a gente se dá conta do que ele representa, ele vai embora. E de que às vezes só o que funciona mesmo é uma boa bica nele, com toda a adrenalina que as funções corporais nos proporcionam!
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
Join our mailing list to receive the latest news and updates from our team.
1 comentário. Deixe novo
Muito lindo o seu texto! Acho que tudo o q escreveu é a mais pura verdade.
Bjs