Zumbis são criaturas interessantes. Eu, particularmente, sou fascinada por eles. Zumbis não falam, andam rastejando e têm morte cerebral, mas apesar de tudo isso eles continuam, de alguma forma, ‘vivos.’
Esse interesse mainstream em zumbis vem aumentando de forma considerável ao longo dos últimos anos e eu acho que sei o porquê.
Zumbis são, em teoria, fáceis de matar. Muito da vida moderna se parece com o massacre dessas figuras. Se há uma coisa que todos nós sabemos sobre matar zumbis é que o ato é simples: você atira no cérebro deles. Pronto. Se houver uma horda de zumbis, você continua fazendo a mesma coisa até que todos sejam eliminados – ou que você fique sem munição. Nesse último caso, a única alternativa minimamente inteligente é correr. E então você continua correndo até que encontre outra arma com munição suficiente para eliminar aqueles que ainda restaram ou até que você se canse. Nesse ultimo caso, é provável que você morra. Ou que também vire um zumbi.
O fato é que toda guerra contra os zumbis é muito mais repetitiva do que complexa. Em outras palavras, matar zumbis é filosoficamente semelhante ao fato de precisar ler e excluir 400 e-mails profissionais em uma manhã de segunda-feira, preencher aquela papelada que não significa muita coisa – só mais burocracia e lixo que não será reciclado – enviar tweets vagos só para “marcar presença nas redes” ou a realizar tarefas tediosas onde o único risco verdadeiro está em ser consumido pelo tédio. A principal desvantagem em qualquer ataque de zumbis é que eles nunca param de chegar (na verdade, nunca entendi esse conceito muito bem: eles não deveriam morrer de fome, eventualmente?) e a principal desvantagem da vida é que você nunca vai conseguir terminar tudo o que começou.
Lutar contra zumbis é sempre algo comum, previsível. Nunca é pessoal. Você sabe como eles se comportam e sabe o que é necessário para detê-los. E esta é uma atração reconfortante, porque esses aspectos realmente não mudam. Eles se tornaram um conhecimento arquetípico compartilhado.
A vida moderna assemelha-se, em alguns aspectos, ao comportamento dos zumbis.
Nossa projeção de medo coletivo é a de que seremos consumidos por todas as informações que incham o nosso cérebro e nos tornam cada vez mais apetitosos para aqueles que, já totalmente transformados, anseiam por uma refeição completa. Nossos cérebros estão na mira daqueles que precisam se alimentar deles para continuar vagando por aí, sem preocupações e sem consciência, guiados apenas pelo instinto básico mais primitivo: a fome.
Se acordássemos todas as manhãs em um determinado horário, fizéssemos o mesmo ritual matinal, tivéssemos os mesmos tipos de pensamentos durante o dia, passássemos por nossas obrigações diárias sem ao menos pensar sobre elas e nos movêssemos junto com a massa, no fim das contas, acabaríamos sentindo fome. Fome de vida.
Os zumbis são a projeção de todas as conversas que não queremos ter; de todas as pessoas com as quais não queremos conviver; de todos os e-mails que não queremos ler; de todo o emprego que não queremos mais manter; de toda uma vida sem significado que não queremos viver. Tudo isso chega às nossas vidas constantemente e sem que ao menos pensemos sobre elas. Se nos rendermos, seremos engolidos. Mas no final das contas, somos capazes de permanecer humanos. Nosso inimigo é implacável e colossal, mas também sem criatividade e estúpido.
Eu, zumbi, às vezes desperto da minha falta de consciência e me dou conta de que estou sendo empurrada, levada por uma onda que eu nem me lembro de ter apanhado, e então eu nado com todas as minhas forças para o mais longe possível daquele grupinho de seres impensantes. Impensável, nessa hora, é imaginar que eu possa fazer parte daqueles que se rastejam pela vida, grunhindo trechos inteligíveis de quase palavras e indo para lugar nenhum, sentindo apenas um vazio que só pode ser preenchido ao devorar pedaços de cérebros alheios, numa tentativa deprimente de absorver algo além de instintos motores aleatórios e inúteis.
Não pense que a guerra acabou, porque nunca acaba. Os zumbis que você mata hoje serão substituídos pelos zumbis de amanhã. Mantenha o cérebro funcionando por conta própria. Reme na direção que você escolher e n
ão naquela que escolheram para você. Não pare de acreditar. Não pare de pensar. Eles estão por aí, escondidos entre os escombros daqueles pensamentos que ninguém admite ter, mas ainda assim são minoria. Este é o nosso mundo e nosso cérebro existe para ser usado, não como uma refeição fast food canibal de um filme de terror qualquer, mas sim como um instrumento de mudança e evolução.
Angélica Silva é uma buscadora. Eu sempre digo que o maior problema dela é ser parecida demais comigo (Alana), o que me confunde nos textos. Não sei qual é de quem! Uma mulher que se joga na vida com coragem, é autêntica, divertida e se reinventa a cada momento. Boto fé! Ela escreve também no seu blog pessoal Assim com a fênix. Confira!
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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