Normalmente, quando ouvimos a palavra “doença,” imediatamente pensamos em algo ruim, uma força que procura nos destruir, mas para um ‘paciente’ que sofre de Wanderlust (“uma expressão derivada do alemão ‘‘wandern’’, ‘‘a vagar’’, e ‘‘lust’’, ‘‘desejo,” comumente definida como um forte desejo de viajar ou de explorar o mundo), as coisas são bem diferentes. Muitas vezes estes viajantes são os que apreciam experiências que estão além dos bens materiais; são pessoas que buscam constantemente novas emoções para adicionar à sua biblioteca de memória.
Eu admito ter esta doença que, para mim, é muito mais um privilégio que eu aceito com gratidão. Wanderlust, como muitas doenças, pode fazer com que aqueles acometidos por ela passem anos – até mesmo a vida toda – gastando tempo e dinheiro tentando diagnosticar essa condição incurável. Ela é responsável por fazer com que adultos e até mesmo crianças sejam incapazes de funcionar adequadamente em suas rotinas e obrigações diárias. Talvez tenhamos apenas que aprender a conviver com ela da mesma forma que se aprende a conviver com a dor. É uma dor constante, que passa a fazer parte da nossa existência, como uma perna que não funciona bem. Assim, para todos os que tentam diagnosticar essas dores, talvez o diagnóstico seja, tão somente, viajar.
O viajante anseia por terras estrangeiras da mesma forma que um diabético anseia por açúcar. Embora não seja uma questão de vida ou morte, os viajantes sentem como se uma parte da sua alma estivesse morrendo se eles não forem capazes de atravessar oceanos ou alcançar novas terras. O Wanderlust se insinua em seus sonhos e toma a forma de lugares distantes; provoca visões em sua mente, visões de lugares que você ainda TEM que ver. Ele faz com que você queira estar em qualquer lugar, menos onde você está agora!
Este anseio é geralmente provocado depois de uma viagem – ou antes – quando parece que seu coração se enche com a promessa de uma nova terra ou o remorso de deixar a antiga.
Wanderlust é uma coceira em um lugar que você não alcança para poder coçar. Não importa para onde você vá, nunca será o suficiente. Esta coceira irá segui-lo por toda a vida, como uma brotoeja, cujo único alívio será a compra de novas passagens ou mesmo a expectativa de novas viagens e planos. Essa coceira fará com que as pessoas se perguntem onde você esteve, em que você tocou, o que você comeu e como, exatamente, você a contraiu.
É muito difícil ficar no mundo em que você está neste instante quando você está sempre pensando em outro. Outro efeito colateral dessa condição é a incapacidade de desfrutar o momento presente, porque muitas vezes os viajantes já estão, mentalmente, em outro lugar. As memórias de viagens anteriores os assombram e eles desejam ardentemente poder revivê-las – ou pelo menos tentar encontrar algo para substituí-las.
Antes de morrer, você deseja ter vivido tanto quanto possível e ter visto tudo o que há para ver no mundo. Na verdade, às vezes você deseja fazer muitas coisas que você não se sente capaz de fazer. O relógio está correndo, a vida é muito curta e você é apenas humano. Sim, nós temos pressa! Sim, há muita coisa para fazer e muito pouco tempo.
Depois de anos tentando chegar a um acordo com a sua natureza inquieta e sua paixão por viajar, você resolve decidir que não se importa. Você vai viajar o mundo para sempre e pular de trabalho em trabalho (na verdade, eu prefiro o termo “ocupação”) sem se preocupar com o dia de amanhã. Seu objetivo final é ver tudo, sentir tudo, experimentar tudo. Esta é a sua vocação e você não vai se desistir dela por nada e por ninguém.
Se você se reconhece nesses sintomas, você também é um wanderluster diagnosticado, condenado a viajar pelo mundo a procura de novas experiências pelo resto da vida enquanto imerge em culturas diferentes; um pulso que bate constantemente e clama para sair e explorar mais, sempre mais. Será essa condição realmente uma “doença” ou, simplesmente, um modo de vida?
Como disse Jack Kerouac, “Porque no fim você não vai se lembrar do tempo que passou no escritório ou movendo a mobília. Por Deus, escale aquela montanha!”
Angélica Silva é uma buscadora. Eu sempre digo que o maior problema dela é ser parecida demais comigo (Alana), o que me confunde nos textos. Não sei qual é de quem! Uma mulher que se joga na vida com coragem, é autêntica, divertida e se reinventa a cada momento. Boto fé! Ela escreve também no seu blog pessoal Assim com a fênix. Confira!
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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