Quando pequena tive a sorte de, durante as férias, ir muitas vezes para o litoral, para lugares remotos onde a distância de um telefone público era de, no mínimo, quatro quilômetros a pé. Nesses percursos pela estrada, e também pelos morros, pelas praias desertas, pelos mangues, vi coisas que parecem muito distantes para uma criança de hoje. Um marlim nadando, um submarino, uma jaca caindo, uma caça ao caranguejo noturna. E também aquilo que ficaria gravado na minha memória para sempre e que hoje chamarei carinhosamente de “cardalume” (um cardume de vagalumes). Nesse dia, me encantei com as luzinhas vivas que voavam ao meu redor. Corri por entre elas imitando sua dança e, claro, as queria todas para mim. Consegui, com a ajuda de um primo mais velho, caçar uma delas, na caixinha de fósforos. E logo imaginei que, quando abrisse a tampa, estaria ali um ser celestial, com a cara da fada sininho. Mas não. O vagalume visto de perto era algo mais próximo a um moscão, ou uma vespa sem cintura, uma abelha sem listras. E a sua luz, por conta da prisão, tinha se apagado.
Claro que já deu para sacar a metáfora e não preciso dizer mais nada sobre ela, não é?
Mas vamos entrar nas profundezas da mensagem. Vamos entrar no medo de perder o brilho que sinto até hoje. Do medo de me prenderem numa caixa e só sobrar ali uma mosca morta. Pior mesmo só o outro medo: o de brilhar. Esse é apavorante. Um tema na minha vida e da vida de tantas outras pessoas. E quando digo brilhar, não é ser famoso, ser apresentador de televisão, nem cantor de rock. Até porque os brilhos da purpurina ou dos 2000 watts no palco nem sempre iluminam uma alma. Estou falando do brilho de SER. Estou falando da fonte inesgotável de luz que jorra a partir de dentro e pode ser vista quando não há tantas máscaras, barreiras, véus, cimentos, concretos. Estou falando do brilho que já vi no sorriso de uma idosa sábia, que senti em jovens visionários, que percebi nas atitudes generosas de um vendedor de cachorro-quente e assisti em teatros vazios com seres tomados até a medula pelo mistério da arte. Já vi esse brilho no espelho também. Em mim. Mas assim como o vagalume na caixinha, também já fui capaz de deixar que se apagasse. Por medo.
O “cardalume” da Alana, com o benfazejo nome de Firefly Wonderland, foi a lembrança de que a luz é livre, a luz é possível e, que se ela falhar,é só a gente dar uma chacoalhada no rabo para acender de novo. Ah, e mais: no evento, tivemos a certeza de que a gente não precisa fazer isso sozinho. A gente pode contar com os outros e formar uma constelação de bundinhas brilhantes, dançantes, replicantes. Já imaginou? A constelação do Vagalume Maior? Tenho certeza que os astrônomos mais malucos, vanguardistas e quânticos já são capazes de vê-la.
Com amor…
Você pode assistir ao vídeo do evento aqui:
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=Q7pRWjBN5Ew[/youtube]Fotos: divulgação.
Adriana Calabró é escritora, dramaturga e roteirista. Conduz a Oficina Palavra Criada desde 2005 e, por meio do projeto Escrita e Pensamento, estimula a visão crítica sobre o uso da palavra. É autora de seis livros e, desde 2011, faz parte do Beco de Escritores, espaço voltado ao fomento da literatura. Foi premiada internacionalmente na área de comunicação e vem afirmando conquistas na literatura adulta e infanto-juvenil brasileiras. Para saber mais, clique AQUI.
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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