* Por Jana Meneghel em 20 de fevereiro de 2016.
Basta fazermos login em algumas de nossas redes sociais, ficarmos na fila de um banco por 5 minutos ou encarar o trânsito no final do dia para percebermos o quanto o ser humano reclama. Nossas reclamações incluem desde tópicos mundiais, como os refugiados sírios e a corrupção política, até situações rotineiras, como a demora do caixa do supermercado ou o clima que está quente demais.
Dito isso, devo dizer que fiquei impressionada com a aproximação do ano novo e as redes sociais me fizeram perceber um fato até então desconhecido para mim. Com a chegada de 2016 e a possibilidade de fazer tudo novo, de transformar e de aprender, a maioria das pessoas utilizou seus perfis no Facebook, no Instagram e no Twitter para fazer exatamente o oposto do que fazem durante a maior parte do ano. Ao invés de reclamarem, agradeceram.
Muita gente, muita mesmo, tirou um tempinho das férias para fazer postagens positivas e cheias de gratidão. Mensagens de amor, de alegria, mensagens sinceras e cheias de otimismo. Ainda que as cidades estivessem cheias, que o calor estivesse intenso e que o trânsito estivesse caótico, as pessoas agradeceram. Mesmo depois de alguns momentos difíceis, mesmo com desafios um tanto complicados, mesmo depois de terem chorado, reclamado, sofrido e encarado alguns monstros novos, agradeceram.
Fiquei tão feliz ao perceber isso! Isso me fez compreender que talvez, lá no fundo, ainda sejamos mais calmos e menos reclamões. Acho que é a vida e suas dificuldades que mascaram um pouco esse sentimento de gratidão no dia-a-dia. Ele está lá, ele existe… apenas não nos damos conta dele quando nos deixamos levar por uma rotina automática. É comum, para muitos de nós, reclamar de alguém ou de alguma coisa. Reclamar da chuva, de alguém no trânsito, de um colega que pisou na bola, da roupa estranha que alguém está vestindo, da refeição que é cara, do preço da gasolina, do barulho do cachorro do vizinho, da água do mar gelada demais, do cheiro de fritura, do vento, do transporte público, da fruta muito madura, da semana que demora a passar, da música brega, do pêlo do gato na calça, da reunião chata, do porteiro antipático, do chefe…
Aí, de repente, diante da possibilidade de fazer diferente em um ano que acaba de nascer, parecemos dar um pouquinho mais de importância àquilo que realmente deveria ocupar mais espaço nas nossas rotinas – seja janeiro, setembro ou março. Na virada do ano, quando em geral vestimos branco em busca de um pouquinho mais de paz, com esperança de que ainda há chances de fazer diferente, nosso coração se abre a uma infinidade de possibilidades. Como dizem por aí, temos um livro novo, com todas as páginas em branco, e cabe a nós preencher essas páginas da forma como bem entendermos. É nosso e temos a liberdade de colocar ali tudo o que nos incomoda, ou tudo o que nos alegra.
Decida, durante todos os meses desse ano, falar de suas alegrias. É o que farei, valendo um beliscão bem dolorido toda vez que uma reclamação ou pensamento negativo quiser surgir. Quero anotar, no meu livro novo, aquilo que me é lindo: o cheiro de terra molhada, o arco-íris no fim do dia, o cara lindo no ônibus, a moça simpática da padaria, o gatinho da vizinha, aquela salada deliciosa do restaurante, um suco de açaí bem gelado. A chuva, mas também o sol, o calor e o frio, a água morna e a água gelada, meus momentos de descanso e meus momentos de cansaço, meu corpo, meus amigos, todos os sorrisos que dou e recebo todos os dias, de graça. Tudo aquilo que me é oferecido diariamente, da minha saúde à gentileza de um homem que abre a porta do prédio para mim.
Para quê fazer tudo igual, se podemos melhorar, mudar, aprender e ensinar? Vamos preencher nosso livro novo com energia boa, colorida, com amor e com essa gratidão que existe lá dentro, sem nos deixar levar por um momento de nervosismo, por um dia difícil ou por alguma palavra que dita sem pensar. Se levarmos conosco durante o ano inteiro esse sentimento que aflorou nas últimas semanas, quem sabe nosso livro, lá em dezembro, esteja repleto de pequenos detalhes e grandes conquistas ao invés de recordações do que nos incomoda. Quem sabe, se conseguirmos nos agarrar à ideia de que a gratidão deve ser cultivada sempre (e não apenas durante os dias de sol, férias e sorvete), a gente possa olhar para trás e ver que cada um dos 366 dias desse 2016 que acabou de nascer carrega alguma coisa, mesmo que bem pequenininha, que nos faz feliz.
Imagens: Google, MTSOfan via Visual Hunt / CC BY-NC-SA , Visual Hunt
A Jana Meneghel é daquelas que se joga, não está nem aí. Não importa onde estiver, está por inteiro. Ela escreve, traduz, dança, lê, ri até a barriga doer. É jornalista, tradutora, aspirante à bailarina e tem um quê de doida. Às vezes pira, às vezes para e pensa, às vezes se fecha no casulo e às vezes chama toda a torcida do Flamengo para um almoço em casa. Ela larga o celular pra viver de verdade e expõe a alma e o coração. Às vezes se arrepende mas, na maioria das vezes, não.
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
Join our mailing list to receive the latest news and updates from our team.