Às vezes paro, olho pra minha vida e me pergunto, honestamente, se não estou fazendo tudo errado. É, por que qual é a garantia que temos de que estamos no caminho certo, no caminho que nos conduz ao encontro do nosso destino, se é que ele existe?
Na prática, simplesmente, quando nos damos conta o filme já está rolando há muito tempo, já temos uma personagem na história – com nome, sobrenome, roupinha, penduricalho, planos (de terceiros) para o futuro, pai e mãe e grande elenco – e ninguém nos avisou antes de abrirem as cortinas, e só nos damos conta tarde demais pra voltar.
Várias vezes na minha vida senti, de verdade, que se pudesse voltava. Voltar pra onde? Pro vazio escuro, silencioso e seguro que se encontrava logo antes do grande portal. Mas pensar em empreender esse caminho de volta é repulsivo. É minha mãe. No way. Como regressar, então, ao paraíso perdido, se é que ele existe? Se não existe, por que é que temos essa intuição tão persistente de que algo maravilhoso ficou para trás, num tempo tão remoto que não podemos identificar nem atribuir à nossa própria infância? Tratar-se-á de um delírio coletivo? Será que estamos todos loucos, juntos, alucinando a mesma loucura? É disso que se trata a tal da ‘realidade’? Muitas vezes quando abro os olhos em minha cama e sou, mais uma vez, lançado de volta nessa realidade, resisto em aceitá-la como tal, tamanho o absurdo de sua existência.
Vamos, observe a realidade que se manifesta repetidamente ao seu redor, agora e todos os dias, e sinceramente me responda: De onde veio tudo isso? Quem botou aí? E pra quê?
Pois me parece ser essa a nossa condição: um belo dia nos descobrimos personagens de uma história que nem sabíamos que estava sendo contada, seguimos história adentro nos batendo para não perder o timing de cada cena, de cada ato, sem nenhum manual de instrução pra nos dizer minimamente o que fazer, e no meio disso tudo ainda te pedem um propósito? Porra, eu fui jogado dormindo numa festa que, quando acordei, não sabia se era um baile de formatura, um bar mitzvah, uma greve sindical ou um casamento, e ainda tenho que levar presente? Tenha paciência… Já tenho que descobrir o que botar no imposto de renda, e agora eu ainda tenho que ter um propósito pra tudo isso? Não dá, pra mim é demais.
Pois saibam que, se pelo menos a minha existência tem algum propósito – reservado a mim pelos deuses ou pela CIA, os Illuminati e os reptilianos – eu tenho encontrado-o por acaso, quando simplesmente paro de querer encontrar alguma resposta (o que realmente me leva às raias da loucura) e apenas sigo as minhas vísceras, meu animal em mim, que com seu faro irracional e infalível – como são os animais – me joga muitas vezes no meio da maior confusão, mas sempre me tirando das garras terríveis do tédio, verdadeiro inimigo maior, na minha humilde opinião, do destino reservado a cada homem e mulher sobre a face da terra.
Fotos: divulgação.
André Arcângelo é escritor, psicólogo e psicoterapeuta, e lê tarot nas horas vagas. Vive e trabalha em São Paulo. Para agendar um horário com ele por skype ou pessoalmente clique aqui.
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
Join our mailing list to receive the latest news and updates from our team.