* Por Julia Queiroz em 26 de junho de 2017
Meu caminho pelo autoconhecimento já passou por muitos estágios. Em cada momento que eu percebo alguma coisa que me incomoda, tento buscar alguma forma de entender o motivo por trás daquilo.
Depois de aprender melhor o que era empatia, comecei a prestar atenção nas minhas conversas e no que saía automaticamente da minha boca sem pensar. Então, percebi que em muitas situações, depois que alguém me contava algo, eu automaticamente queria falar de mim.
Se a pessoa dizia que fazia muito tempo que não ia no cinema, eu comentava que o tempo que eu não ia era maior que o dela. Se me dizia que precisava ir na academia, eu falava orgulhosa que estava conseguindo ir quase três vezes por semana. Se o comentário era sobre a atitude de alguém, eu já respondia qual eu achava que seria a minha atitude na mesma situação… E assim, eu podia dar mil exemplos de alguns comentários que eu fazia e que eram mais comuns do que eu pensava.
Quando eu prestei atenção nisso, eu parei para refletir. Me senti um pouco mal, afinal eu não estava ouvindo de verdade as outras pessoas e essa não era a minha intenção. A empatia que eu achei que tinha, desaparecia nesses momentos. Já que eu não expressava nenhum interesse genuíno pelas coisas que estavam contando e desviava a conversa para mim.
Então, parei para pensar: estou conversando ou me comparando o tempo todo? Faço o que faço por mim ou para os outros? Por que tenho essa necessidade de falar da minha vida? Por que eu preciso dizer o que eu faria?
Resolvi fazer um experimento e me desafiei a tentar não falar de mim mesma e dar minhas opiniões, ao menos que fosse diretamente perguntado. A outra “regra” seria que se me perguntassem algo eu só diria o que foi perguntado e não sairia emendando um monte de assunto sobre a minha vida.
Isso não quer dizer que eu não conversaria, eu só teria que mudar a conversa para que eu não precisasse falar nada sobre mim. Tirar o foco de mim e passar para a pessoa que eu estava ouvindo.
Assim, fui mudando a dinâmica dos diálogos. Se alguém dizia que tinha visitado 10 países, em vez de dizer quantos eu conheci, perguntava quais ela tinha estado ou gostado mais. Se alguém comentava como amava carne, eu simplesmente ouvia, mas não falava das minhas escolhas alimentares. Se começavam a comentar sobre a atitude de uma pessoa, eu tentava buscar o motivo por trás daquilo e o porquê daquela postura.
Tinha dias e momentos que dava uma vontade enorme de falar de mim e não posso mentir que uma vez ou outra não consegui cumprir o desafio. Mas a maior parte do tempo eu segui com ele.
E tudo isso refletiu também nas minhas escolhas do dia a dia. Percebi que em alguns momentos eu decidia fazer algo e já pensava como eu ia contar aquilo. Então, automaticamente, eu me perguntava: para quem eu estava fazendo aquilo de verdade? Era para mim? Para alimentar meu ego? Para me sentir superior?
Será que a culpa é da cultura competitiva em que eu fui criada?
É difícil entender porque eu tenho essa forma “automática” agir, mas me desafiar a não falar de mim foi uma decisão que mudou muito a minha forma de pensar. O que era um desafio se tornou um hábito. Hoje eu sigo com a mesma filosofia: escutar, perguntar mais e me comparar menos. Nada de exageros e regras, às vezes é importante desabafar com algum amigo também. O equilíbrio é fundamental.
E depois de tudo isso, eu só consigo pensar em um texto do Mooji, que para mim resume toda essa guerra interna que eu tive que vencer para não falar de mim mesma e que vai ser o desfecho perfeito para esse texto:
“Se você acha que é mais “espiritual” andar de bicicleta ou usar transporte público para se locomover, tudo bem, mas se você julgar qualquer outra pessoa que dirige um carro, então você está preso em uma armadilha do ego.
Se você acha que é mais “espiritual” não ver televisão porque mexe com o seu cérebro, tudo bem, mas se julgar aqueles que ainda assistem, então você está preso em uma armadilha do ego.
Se você acha que é mais “espiritual” evitar saber de fofocas ou notícias da mídia, mas se encontra julgando aqueles que leem essas coisas, então você está preso em uma armadilha do ego.
Se você acha que é mais “espiritual” fazer Yoga, se tornar vegano, comprar só comidas orgânicas, comprar cristais, praticar reiki, meditar, usar roupas “hippies”, visitar templos e ler livros sobre iluminação espiritual, mas julgar qualquer pessoa que não faça isso, então você está preso em uma armadilha do ego.
Sempre esteja consciente ao se sentir superior. A noção de que você é superior é a maior indicação de que você está em uma armadilha egoica. O ego adora entrar pela porta de trás. Ele vai pegar uma ideia nobre, como começar Yoga e, então, distorcê-la para servir o seu objetivo ao fazer você se sentir superior aos outros; você começará a menosprezar aqueles que não estão seguindo o seu “caminho espiritual certo”. Superioridade, julgamento e condenação. Essas são armadilhas do ego.”– Mooji
Imagens: Google, AA Dagital Photography via Visualhunt.com / CC BY-NC-ND, Google, VisualHunt.com
Julia Queiroz percebeu que não se encaixava com a vida louca de uma cidade grande. Saiu por ai para se encontrar e continua nessa busca. Gosta de viajar, estar em contato com a natureza, aprender coisas novas e discussões saudáveis. Tem dificuldade para compreender a complexidade do mundo ao mesmo tempo que faz a sua parte para tentar mudar ele para melhor. Percebeu que decidir mudar e viver em outro país tem seu lado difícil, então resolveu ajudar quem está na mesma situação no site Tempo de Migrar, através de reflexões e dicas práticas.
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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24 comentários. Deixe novo
Julia, adorei suas palavras… seu texto ficou incrível! Hoje me senti em sintonia com duas coisas..uma delas foi seu texto, há um poucas horas atrás me passava pela cabeça esse texto de Mooji, uma verdadeira lição. E encontrar ele no seu texto me trouxe uma energia muito boa, hoje consegui sentir, de forma clara e concreta, esse momento de conexão dos pensamentos com o universo, que muitas vezes levam a crer que foi só uma coincidência .. obrigada, hoje vc fez parte disso!
Oi Anna! Poxa, fiquei muito feliz com o seu comentário! Que bom que você gostou! Fico feliz de saber que de alguma forma te trouxe uma boa energia! Você com certeza me passou boas energias com o seu comentário também! Beijos Julia
O problema também é grande quando paramos para ouvir uma pessoa que só quer falar de si, e então não há diálogo, parece uma entrevista na verdade rs. Muito bom o texto, tento sempre fazer isso, ouvir o outro.
Oi Adriane! Verdade. Uma coisa que reparei, é que quando a pessoa quer falar de si, existe uma possibilidade muito pequena que ela mude naquele momento a conversa. Melhor só ouvir mesmo e deixar a troca para outras conversas..rsrs Obrigada por comentar! Beijos Julia
😰…certa vez…estava mal…precisava conversar(falar)…liguei para uma pessoa…a pessoa já entrou.na linha falando….falou.por 30 min…e encerrou”amiga preciso desligar”…e eu…fiquei olhando para o telefone…desacreditada no tinha acabado de acontecer..
mas blz…a gente releva..
Lindo texto, Julia, super válida essa reflexão, adorei! beijão
Obrigada Claudinha!!! Um beijão
Excelente texto, Julia.
Obrigada Barbara! Fico feliz que você gostou!!
Parabéns Julia. Texto muito lúcido e nos desafia e convida a sermos mais atenciosos com nossas emoções e pensamentos.
Obrigada Luciano!! Fico feliz que deu para entender bem o que eu queria passar. Ainda continua sendo um desafio para mim =) Beijão
Obrigado por compartilhar sua experiência Júlia. Já que não dá pra saber o porquê de tudo, pelo menos podemos abrir os olhos para o que estamos fazendo e tentar mudar.
Com certeza Andrius! Esta é a ideia mesmo =) Obrigada!
Parabéns, pelo lindo texto!
Já me peguei muitas vezes nessa situação “egóica” e o julgar, é a pior delas para mim.
Abraços e tenha uma linda e abençoada jornada!
Faz parte Denise. Importante é a consciência, que você já tem. Obrigada e fico feliz que você gostou! Beijão
Muito bom o texto. Passei e passo pelo mesmo processo, me identifiquei em várias partes. Parabéns.
Obrigada você Michael! Fico feliz que você gostou =)
Perfeito. Acho que tudo tem sua hora. A hora do outro falar e hora de fazer comentários sobre o assunto que ele está abordando. Fazer perguntas sobre o assunto dele. Ficar todo ouvidos para o outro. Depois invertem . E eu posso falar de mim. O outro deve fazer o mesmo por mim. Assim se constrói uma conversa de verdade . Sem egos exacerbados.
Com certeza! Deveria ser sempre assim, mas como somos humanos…. rs Obrigada pelo comentário!! =)
Amei o texto!!! Me tocou de verdade. Isso acontece comigo, pratico o exercício de ouvir… mas as vezes falho com o compromisso, pq sinto muitíssima falta de ser ouvida. Obrigada pelo texto! Abracos
Excelente tua reflexão e prática. Adorei teu texto! Você conhece os videos da Brené Brown? Tem um sobre empatia muito bom, e wue tem tudo a ver com o que você falou. Parabéns, bjim. O video é este: https://youtu.be/1Evwgu369Jw
Julia, que luz veio em boa hora. Muito Bom saber que outras pessoas estão lindando com as mesmas dores do crescimento que nós!
Amei!!! Estou nesse processo também. Lendo seu texto pude entender melhor o que estou vivendo. Obrigada!
“Toda felicidade que há neste mundo surge da mente que aprecia os outros. E todo sofrimento que há neste mundo surge da mente que aprecia a si mesmo.” Guia do Estilo de Vida do Bodissatva
E todo sofrimento que há neste mundo surge da mente que aprecia a si mesmo.”
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