* Por Angélica Nedog em 04 de agosto de 2016
PERDIDA, EU? SEMPRE!
Eu adoro me perder. Acho até que já me acostumei. A maioria das pessoas não gosta de perder o controle da situação. Elas se sentem desorientadas e sem saber para onde estão indo. Particularmente, acho isso fascinante!
Tem uma mistura específica de sentimentos que me surpreende: confusão (de não saber onde estou); solidão (de ter apenas eu mesma em quem confiar) e autoconfiança restabelecida (de saber que eu vou, eventualmente, encontrar meu caminho de volta).
Mas o mais importante é que, quando estou perdida, eu fico completamente absorta em meus pensamentos e as conversas internas se tornam o centro da minha atenção: que rua pegar em seguida, se eu devo seguir em linha reta ou virar (eu sempre acabo virando, no final!).
Se eu encontrar uma vista bonita, eu acabo fazendo uma pausa e apreciando a paisagem; se tiver um café simpático pelo caminho, eu entro e perco a noção do tempo, entre um cappuccino e um croissant. Eu posso decidir entre perguntar o caminho de volta a um estranho ou confiar em meu senso de direção – que senso? – para voltar. Ao mesmo tempo em que minha mente se concentra em achar a direção certa, ela se distrai com inúmeros pensamentos, cheiros, olhares e sons que ela encontra pelo caminho. E são tantos!
Acho que o meu fascínio por me perder começou quando eu me dei conta de que não tinha o menor senso de direção, e então resolvi levar este meu lado “B” na esportiva. Quando li “Alice no País das Maravilhas”, percebi que estava pronta para seguir o meu coelho branco em terras desconhecidas.
Quando era criança, passava muito tempo em um bairro em fase de desenvolvimento, com muitos terrenos baldios e ruas empoeiradas. Eu andava por essas ruas e vagava por entre os terrenos. Eu adorava a ideia de não ter ideia de saber onde eu estava, ou, mais precisamente, estar longe do que me era familiar.
Eu também achava muito divertido as pessoas tentando me encontrar, embora agora eu tenha consciência da quantidade de pânico que causei com meus sumiços. Certa vez, na praia, um salva-vidas me encontrou brincando na areia, bem longe do lugar onde eu deveria estar. Lembro-me de como eu me sentia quando era encontrada: eu estava sempre tranquila e feliz – ao contrário das pessoas que me estavam descabeladas me procurando, e cujos sentimentos eram uma mistura de desespero por achar que eu havia sumido e o alívio de terem me encontrado intacta. Afinal de contas, eu sempre chegava em casa com a descoberta de novos amigos e novos lugares.
Eu sempre me senti pronta para me perder de novo, em uma terra que pudesse me oferecer a promessa de novas aventuras e desafios.
Hoje eu estou longe do que chamo de casa, embora tenha a sensação de que sou, mesmo, cidadã do mundo. Estou em outro continente, vivenciando outras culturas, aprendendo novas línguas, vivendo novos desafios. Quando resolvi abraçar mais uma vez esse sentimento de estar longe do familiar, bateu a mesma onda de confusão, expectativa e autoconfiança. Ao me colocar em um ambiente diferente, não só encontrei mais aventuras, como também continuei a construir a minha identidade, que é constantemente moldada por novas histórias e novos personagens.
Recebo mensagens de amigos me indicando mil lugares para conhecer. Anoto todos, faço uma pesquisa básica na internet e vou desbravando todos, um a um, entre uma perdidinha aqui e outra acolá; entrando no ônibus errado e descendo no próximo ponto; perguntando para quem eu acho que tem “cara de quem sabe”; desistindo e voltando para casa, às vezes!
Mas, no final das contas, o fato é que todas estas experiências são tão “eu” que eu sempre acabo achando graça. Agora, eu pego o ônibus certo com mais frequência, entendo um pouco melhor o GPS, fiz amizade com o motorista do ônibus, dou risada da minha perdição.
Sim, eu ainda estou literalmente perdida! E espero continuar assim pelo resto da minha vida: me perdendo um pouco aqui, me achando um pouco lá, encontrando partes do quebra-cabeças que é a minha vida. Que sou eu. E assim continua o meu fascínio por me perder. Eu finalmente entendi que não posso me dar ao luxo de deixar o coelho branco escapar quando ele aparece!
Imagens: Leo Hidalgo (@yompyz) via VisualHunt.com / CC BY-NC , Google, Google, Google.
Angélica Silva é uma buscadora. Eu sempre digo que o maior problema dela é ser parecida demais comigo (Alana), o que me confunde nos textos. Não sei qual é de quem! Uma mulher que se joga na vida com coragem, é autêntica, divertida e se reinventa a cada momento. Boto fé! Ela escreve também no seu blog pessoal Assim com a fênix. Confira!
"Eu sou uma buscadora, dando meus passos no universo. Tentando entender, tentando digerir a vida. Eu não quero parar até encontrar de fato tudo o que venho buscando: dar todo o meu amor!"
– Autor desconhecido
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Que demais